Por Amauri Eugênio Jr.
Antônio se faz de durão e evita demonstrar qualquer tipo de emoção em público, mas não conseguiu conter as lágrimas quando o seu time foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. Bernardo chorou copiosamente durante o seu casamento, desde a hora em que a noiva estava a caminho do altar até a hora de os dois dizerem “sim”. Fernando fica abatido com facilidade por qualquer motivo, não importando se aconteceu um desastre natural em algum lugar do mundo ou porque teve um dia difícil no trabalho. Leonardo não consegue disfarçar o sorriso a cada vez que a sua filha, de 7 meses, diz “papai”, o que o faz ficar emocionado.
Achou algo estranho no parágrafo acima? Pois bem, com certeza você cresceu no tempo em que homem era moralmente proibido de demonstrar sentimentos e, como consequência, de ser emotivo. Já se não viu nada demais nas situações descritas, eis um fato: você não acha que é problema ser um cara ser sensível, que chorar, se emociona e é capaz de quebrar a sisudez. A sensibilidade masculina é um sinal dos tempos e reflexo de transformações sociais, que transitam desde a quebra de modelos tipicamente machistas e patriarcais, como a história de ele ser a autoridade máxima da família – e na ausência do pai, o filho mais velho passava a ser o “chefe” da casa.
É verdade que ainda há resquícios importantes desse tipo de estrutura social. “Sendo assim, comportamentos que se iniciaram nas cavernas foram mantidos ao longo do tempo até chegarmos ao momento em que não fazem mais sentido, mas continuam a ser mantidos por puro costume. Isso fez nossa sociedade desvalorizar cada homem que demonstrou um pouco mais de emoção”, explica a psicóloga Marisa de Abreu, sobre o conceito social de que homens têm de ser “caras durões”.
Por que chorar era considerado algo feio?
Quem nunca viu um garoto ouvir dos pais que era para “se comportar como homem” após chorar por ter machucado o joelho, brigado com o coleguinha de classe e levar alguns socos a mais, ou porque os amigos da rua ficaram rindo da cara dele por não saber jogar futebol? Pode até parecer estranho, mas desde pequenos os homens ainda eram criados para ser verdadeiras máquinas, mas humanas. Então, demonstrar qualquer tipo de emoção equivalia a dar sinais de fraqueza, além de significar que ele poderia ter sérios problemas tanto no profissional, como no pessoal, como diria um apresentador televisivo. O resultado disso? O julgamento por parte da sociedade sobre esse cara ser incapaz de comandar uma família. Isso explica porque, após tanto tempo, só agora o homem ajudar nas tarefas domésticas ser algo aceito em vez de ser um desvio de caráter, como isso era visto antigamente. Contudo, uma das consequências da aceitação cada vez maior do perfil, digamos, sensível do homem é que ele é visto como alguém com capacidade maior de empatia.
Virando a página
Toda transformação cultural não acontece da noite para o dia e, por esse motivo, leva algum tempo para ser efetiva. Logo, para haver um mundo em que seja perfeitamente aceitável um homem ser emotivo, as crianças devem crescer em um meio no qual isso seja considerado natural. Ação e reação, simples assim. “Frases como ‘Comporte-se como um homem’ não passam de preconceitos e toda frase preconceituosa deve ser evitada a fim de não perpetuar a distorção cognitiva, ou seja, erro de pensamento”, destaca a psicóloga Marisa.
Mulheres, mulheres, mulheres…
… Por que tão indecisas? A resposta é simples. A sociedade ainda tem características bem machistas, não é? Elas também cresceram nesse mesmo molde social, e criam os filhos para serem os machos dominantes. Como consequência, foram criadas para acharem que eles devem ser provedores e ser duros, mas sem perder a ternura jamais. Contraditório, convenhamos. Mas isso é parte da transformação cultural que está acontecendo. “As mulheres fazem parte da mesma sociedade e toda mudança ocorre aos poucos. Estamos no meio do caminho dessa mudança, então os sentimentos são ambivalentes. Elas desejam o ‘caçador poderoso’, pois está em toda sua historia de educação, mas sentem falta do amigo e amante carinhoso”, pontua Marisa.
Há limites!
OK, já sabemos que não há mal algum chorar e demonstrar o que sente. Mas tem hora para tudo. Ter um ataque de choro compulsivo durante uma reunião com a equipe na empresa não é a melhor atitude do mundo e (claro!) ninguém quer ser considerado descontrolado ou histérico.
Sendo assim, vale dizer que ainda é necessário saber quando e com quem demonstrar o que se passa, emocionalmente falando, pois equivale a mostrar-se vulnerável – sem julgamentos negativos, é bom ressaltar. Isso acontece porque se permite à pessoa conhecê-lo com mais intimidade, o que pode fazê-la tanto te acolher como atacar. Em resumo, o que vale aqui é a confiança na pessoa com quem se abre e se mostra mais emotivo. “Não há como evitar o julgamento alheio, mas há como nos blindarmos para isso não nos afetar emocionalmente. Tendo a consciência de que se está fazendo a coisa certa, da forma certa, no momento certo e com a pessoa certa, não há por que temer o julgamento alheio”, completa a psicóloga Marisa de Abreu.