Por Amauri Eugênio Jr
Ricardo Reis, 43, é daquele tipo de pessoa com quem qualquer conversa vira uma aula e o ouvinte, mesmo sem perceber, muda algum ponto da própria vida. Reis é master coach em PNL (programação neurolinguística), hipnólogo clínico e formado em hipnose ericksoniana, modalidade que ajuda a quebrar padrões de comportamento indesejados. Ele é tão reconhecido
pelo seu trabalho, que sua agenda de clientes é das mais intensas. Mas, mais do que atender, ele faz de seu trabalho uma missão para ajudar o próximo a descobrir o próprio potencial. Essa é a sua maior recompensa.
“As árvores mais fortes são as que crescem contra a direção do vento”, conta Ricardo Reis, para a reportagem da RG, em uma mesa da área externa da padaria Maria Cereja, sobre como adversidades ajudam a moldar o caráter de uma pessoa. Apesar de ter sido uma entrevista para a reportagem que você está lendo agora, a conversa foi uma aula. Ao mesmo tempo em que falava de modo pausado, como quem escolhesse a melhor palavra para cada ocasião, ele mostrava em seu tom de voz o entusiasmo comum a quem sente prazer em seu trabalho.
O fascínio pela sua atual atividade surgiu na infância, quando ele conheceu um psicólogo formado em hipnose ericksoniana, e a habilidade desse profissional para lidar com pessoas chamou a atenção de Reis. Anos depois, ele conheceu a PNL por intermédio de outra pessoa. “Ela era vendedora e, onde chegava, ela conseguia vender. Ela tinha muita habilidade para falar e isso me chamou a atenção, pois eu pensava que ela era capaz de fazer qualquer coisa”, explica.
Construção de mundo
“Só enxergamos no outro o que existe em nós mesmos, pois temos dificuldade de ver isso na gente. Esse é um mecanismo de autodefesa”, descreve Ricardo, sobre como construímos paradigmas em nós mesmos, sem perceber, e como os projetamos em outras pessoas. Pode não parecer, mas o ponto de partida está na tentativa de ajudar ao próximo, como quando os pais colocam limitações nos filhos com a melhor das intenções – falar sobre quão perigoso é nadar, por exemplo. Isso pode ser intenso ao ponto de criar padrões na pessoa que podem ser limitadores, podendo fazê-la perder oportunidades. “A PNL e a hipnose ericksoniana ajudam a quebrar mitos e limitações. Com o trabalho de coach, atuo como uma espécie de técnico, e ajudo a mostrar à pessoa onde ela está e onde deseja estar. Eu a auxilio a destravar suas limitações”. Conhecimento de causa ele tem. Basta dizer que o master coach foi treinado por Roxana Erickson, filha do criador da hipnose ericksoniana, Milton Erickson; e Teresa Robles, psicoterapeuta e amiga do criador desse método. “Isso me deixa muito orgulhoso e me faz sentir capacitado para exercer o meu trabalho.”
Para quem não entendeu como funciona a PNL, pensemos no cérebro como um hardware – computador – e os pensamentos e comportamento, o software. Esse método auxilia na reprogramação de como pensamos para, assim, mudarmos o modo como nos comportamos e deixarmos de lado fobias diversas, como medo de viajar de avião ou de altura, entre tantos outros. A mesma coisa vale para não aceitar soluções simples e achar que tudo deve vir à base de muito sacrifício, o que é resultado da criação de crenças limitadoras, como as colocadas pelos pais nos filhos. “A mente não se defende de nada: se souber fazer perguntas [sobre qualquer coisa], ela buscará, como em uma pesquisa na memória do computador, e isso pode ser a chave para destravar questões da maior importância para uma pessoa ser mais feliz”, detalha Ricardo.
Doação neurolinguística
Sabe aquela história de que uma ação resulta em outra ação? Essa história descreve bem a trajetória de Reis. Antes de se preocupar com o dinheiro resultante de seu trabalho, o maior ganho para ele é ver pessoas bem. “Isso faz muito bem para elas, que indicam [o trabalho] para outras pessoas. Deixo o dinheiro de lado e me preocupo com elas, e as ajudo a descobrir o poder que elas têm. Isso me completa de um jeito que não tenho como explicar. E o dinheiro, de forma natural, vem!”, conta, enfatizando o lado humano de sua atividade. “Essa é uma lição de vida. O dinheiro é uma consequência.”
Você pode pensar que, por saber como ajudar a outras pessoas deixarem de lado seus medos e a agir com mais tranquilidade, Ricardo está livre de preocupações com problemas cotidianos. Não é bem assim: ele tem pensamentos e atitudes iguais às de qualquer outra pessoa e sua formação não o isenta de ter paradigmas, mas a grande diferença é que ele tem consciência disso e usa tais técnicas com ele mesmo para lidar com adversidades. “Preciso estar atento a isso e, como sei que essas técnicas funcionam, eu as uso comigo mesmo para transmitir confiança.”
Outro ponto importante da PNL é ajudar a pessoa a saber que existem dois mundos, sendo um o que habitamos e o outro, que está dentro de nós, composto por paradigmas e sensações. Como consequência, um mesmo problema pode afetar qualquer pessoa de modo diferente, por causa das predisposições relativas a cada um. “A PNL ajuda a lidar com questões internas, para ajudar a tocar a vida de modo melhor. O jeito como olhamos as coisas ao nosso redor faz a diferença, pois a maneira de enfrentar isso tudo é individual.”
Questão de tempo
“Comecei a ter sucesso no trabalho de um ano e meio para cá. Valeu a pena [esse tempo]? Valeu. Os problemas que tive antes me deixaram mais forte”. Essa fala do master coach é reveladora, para mostrar que não importa quanto tempo será necessário para uma pessoa ser bem sucedida em sua trajetória. “Não importa quanto tempo de vida temos, mas quanta vida tem dentro do tempo.”
O entusiasmo e a segurança transmitidas por Ricardo, aliadas à vontade de mudar vidas, são refletidos em sua agenda e quantidade de pessoas atendidas por ele. Ele tem cerca de 50 alunos de PNL e aproximadamente 60 de PNL com hipnose ericksoniana. Já no coach, a rotina é ainda mais intensa, por três dias por semana, ao ponto de ele ter raros espaços na agenda até março de 2016. Tudo isso é fruto do amor pela sua profissão. “O que mais gosto no trabalho é ver a surpresa nos olhos das pessoas, quando elas descobrem que as respostas para os seus problemas eram tão simples e estavam dentro delas mesmas”, finaliza, com o jeito de falar tão comum a pessoas sábias.
Nota da Redação
Durante a entrevista, conforme ele falava sobre questões relacionadas aos pais e filhos, me recordei sobre questões relacionadas à minha infância. Sempre tive o meu pai como exemplo máximo desde que me entendo por gente e ele tratava a mim e aos meus dois irmãos do mesmo modo. Mas, o meu irmão, hoje com 24 anos, sempre foi muito mais parecido com ele, inclusive por gostar de futebol desde o berço, o que era dito por quase todos os meus tios. Como eu era um pouco mais nerd, eu me sentia deixado em segundo plano, mesmo sabendo que não era por predileção do meu pai em relação a ele. E isso me motivou a começar a jogar futebol para mostrar que eu também existia – mais para mim mesmo. Hoje, até mesmo por sermos adultos, esse sentimento de rejeição, que sem saber acabei levando por muito tempo em minha vida, é bem menor. Ao me recordar disso, quase chorei durante a entrevista e deu nó na garganta enquanto escrevia essas linhas.