O que não faltam são séries de TV. Estão em alta e aparecem aos montes: umas nascem, outras são revividas por seus produtores que veem nesse tipo de produção uma grande fonte de dinheiro. A evidência de nomes como The Walking Dead (TWD) e Game of Thrones (GOT) coloca os seriados televisivos como verdadeiras atrações de legiões de fãs, que levantam e debatem com afinco na internet hipóteses dos próximos capítulos. Mas, antes de se aventurar nessas duas histórias, é interessante conhecer um pouco mais sobre a origem dessa modalidade e títulos que já foram considerados sensações do momento.
O que é um seriado?
É um programa de TV dividido por um número pré-determinado de episódios por tempoarada. A maior vantagem (e desvantagem para os fãs), é que não há uma duração estipulada para elas. As séries podem ter um ou vários anos: tudo depende se a história e personagem cairão na graça do público.
O primeiro seriado televisivo a ter um arranque de sucesso foi norte-americano “I Love Lucy” (1951), com 194 episódios, mas o seriado britânico Pinwright’s Progress (1946) foi o pioneiro nas telinhas – o conceito de série vem dos antigos folhetins no século XIX, onde autores publicavam seus romances por partes nos jornais da época. Ainda em 1951, “As aventuras de Superman” foi ao ar, sendo exibido até 1958, com seis temporadas.
No Brasil, quem deu as primeiras cartas foi Abelardo Barbosa, o Chacrinha, com Rancho Alegre, em 1950. Depois, em 1952, veio o querido Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Netflix
A Netflix, pioneira no serviço de streaming de vídeo, tornou corriqueira a cena de um casal em frente à televisão para assistir a uma maratona de filmes ou séries. A provedora, além de ter um imenso catálogo de títulos (bons e ruins), possui suas próprias séries originais, como Demolidor, House of Cards e Narcos, grandes sucessos.
Primeiras séries que embalaram
- I Love Lucy (1951);
- As aventuras de Rin tin tin (1954);
- A Feiticeira (1962);
- A Família Addams (1964);
- Jeannie é um Gênio (1965);
- Star Trek (1966);
- Batman (1966);
- As Panteras (1976).
As queridinhas do passado
Hoje, TWD e GOT são as sensações. Mas, o sucesso das séries não é de hoje. Em 1993, Arquivo X mexia com público com suas investigações sobre casos paranormais e extraterrestres. O seriado apresenta os agentes do FBI Fox Mulder e Dana Scully como investigadores dos arquivos-x (eventos sem explicação científica plausível que envolvem os temas supracitados). Enquanto Mulder acredita na veracidade desses casos, a médica Scully, que analisa cientificamente as descobertas do agente, é cética.
A premiada série acabou em 2002, com 11 temporadas na bagagem, mas 2016 foi o ano de seu retorno.
Em 1994, Friends veio para conquistar e marcar fãs de todo o mundo. A série, com mais de 50 premiações, teve dez temporadas e terminou em 2004, tendo em todos os episódios ótimos índices de espectadores em todos os países que a transmitiram. Quem gosta de seriados dificilmente não assistiu às aventuras de Joey, Ross, Chandler, Monica, Rache e Phoebe. O título fez tanto sucesso que na última temporada os seis atores principais recebiam um milhão de dólares cada um.
Quem não lembra das séries lançadas em 1995: Hércules, que conta as aventuras do semideus, filho de Zeus; e Xena: A Princesa Guerreira, uma fantasia que conta a história de uma princesa que tenta se redimir de seu passado. Xena, inclusive, foi listada entre as 25 Melhores Séries de Culto da História, pela revista TV Guide.
No Brasil, sucessos como Um Maluco no Pedaço (1990-1996), Eu, a Patroa e as Crianças (2001-2005) e Todo mundo odeia o Chris (2005-2009) ocuparam o tempo de muita gente durante os almoços. E, ao citar os programas antigos que badalaram as terras tupiniquis, não podemos deixar de fora as aventuras de Chaves (1973-1980) e toda a turma da vila.
Vale lembrar de ER – Plantão Médico (1994-2009), Sex and the City (1998-2004), 24 Horas (2001-2010), Lost (2004-2010), Barrados no Baile (1990-2000), House M.D. (2004-2012), How I Met Your Mother (2005-2014), Breaking Bad (2008-2013), além de mais um número infindável de produções que conquistaram e conquistam o público até hoje.
Uma ascensão sem limites
Para cada nova temporada, milhares de fãs aderem à famigerada série zumbilesca. De fato, The Walking Dead é a história de sucesso mais surpreendente na indústria do entretenimento na última década. Nascida dos quadrinhos, a primeira temporada foi em 2010, e a cada nova, mais doses de sangue e mutilações são acrescentadas. Em tempos do politicamente correto, como é possível entender esse fenômeno?
Jorge Henrique Fugimoto, pesquisador e mestre em ciências sociais pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, campus de Guarulhos da Unifesp, explica, através de conceitos da sociologia, que um dos motivos envolvem criações pós-11 de setembro, que estabelecem vínculos, de forma implícita, aos eventos que sucederam esse fato, expondo uma alta carga de violência, destruição do corpo e sangue. “Há um forte paralelo com as produções zumbis, em especial The Walking Dead, por representar a ruptura da sociedade, despertando no público as fantasias de sobrevivência e os sentimentos de ansiedade e desconfiança”, analisa Fugimoto, que também diz que outro ponto para explicar o megassucesso é a curiosidade do público em saber como se dariam as relações das pessoas em um mundo pós-apocalíptico que exige a sobrevivência.
Será que você já parou para pensar como seria um mundo em que o alimento e a água são escassos? Ou até mesmo nas consequências de uma guerra biológica? Nesse contexto, os zumbis são um adicional a mais (leia-se muito mais) na trama, que, talvez, represente uma possível implicação de um supervírus solto na humanidade. As séries, de uma forma ou de outra, refletem um contexto da nossa própria realidade. Essa pode ser uma explicação para a atração. Reflita.
Mais e mais sucesso
A sétima temporada estreou neste mês de outubro com um episódio explosivo que fez as redes sociais bombarem de comentários e análises. O desenrolar dos fatos colocou Negan, o mais novo e cruel vilão, e a “Lucille”, no elevado patamar de ser criado pelo próprio capiroto. Infelizmente, as coisas tendem a piorar mais do que foi mostrado no tão aguardado capítulo. A propósito, a “Lucille” é um taco de beisebol enrolado em arame farpado, responsável por produzir as mais terríveis barbáries que os fãs nem são capazes de imaginar. Aguenta coração, que tem muita história pela frente!
Mesmo com a morte de personagens queridos, os fãs aplaudiram o enredo como um todo. O sucesso foi deixar os que acompanham a série com as unhas roídas de curiosidade devido ao gran finale da sexta temporada, em que o simpático e sádico vilão escolheria as suas primeiras vítimas, sendo todos os presentes potenciais alvos.
O segundo capítulo desta fase foi diferente: mais calmo, sem mortes. Sempre há essa pausa: serve para situar o enredo e também deixar um clima mais misterioso para saber como vai ser o desfecho da tensão causada no episódio anterior.
Porém, parece que TWD seguirá uma faceta diferente, que já vinha sendo implantada nas temporadas passadas: a da guerra das comunidades erguidas em meio ao mundo apocalíptico. Na nova cidadela que apareceu, as pessoas buscam o renascimento de uma sociedade feliz e normal. Os zumbis, ao que tudo indica, ficarão em um segundo plano. Mas isso são apenas especulações, como muitas outras que existem por aí.
A série de TV traz na bagagem vários prêmios, como Cinema Audio Society Awards, Directors Guild of America Award, Emmy Award, Golden Globe Awards, Satellite Awards, Saturn Award, Teen Choice Awards e People’s Choice Awards.
O primeiro episódio da quinta temporada tornou-se o mais assistido da história das séries. Foram 17,3 milhões, sendo 11 milhões adultos entre 18 a 49 anos. E isso nos EUA. O primeiro da sétima temporada quase bateu a marca, 17 milhões, mas faltou um pouco mais de fôlego para superar o próprio recorde.
A série The Walking Dead é transmitida no Brasil, pelo canal pago Fox, aos domingos, às 23h30.
Dos quadrinhos para a tela
The Walking Dead é baseado nos quadrinhos homônimos. O primeiro gibi foi lançado em 2003. A adaptação para as telas sofreu mudanças, como Daryl, um dos mais conhecidos e queridos, mas que não existe na série original. A princípio não teve tanta atenção, mas foi ganhando espaço com o tempo e faturou, em 2010, o prêmio Eisner Award de Melhor Série Contínua.
O jogo político dos tronos
“Se alguém morre e você simplesmente pega mais pipoca, é superficial, não é?”, essa é uma das frases de George R. R. Martin, concedida ao Inside TV e uma das mais célebres do autor, pois nos faz pensar como funciona a série que cada vez mais tem angariado fãs consumistas pela complexa história de disputas de poder recheadas com muito, mas muito sangue. Falo de Game of Thrones, série retirada dos livros As Crônicas do Gelo e do Fogo.
Diferente do que se pensa, a série trata de um jogo político, em que famílias disputam o comando de Westeros. O verdadeiro centro de toda a história: poder. Tudo se resume na busca por essa pequena palavra que pode causar grandes conflitos e não é necessária uma superprodução do cinema para se comprovar isso. Dragões, mortos-vivos e mais outros personagens fantasiosos são apenas planos de fundo para o amor, luxúria, ódio, vingança (fora as cenas +18), um querendo sobrepujar o outro, usando de todas as artimanhas possíveis para conseguir. É uma trama completa, aplaudida pelos especialistas.
Game of Thrones é o tipo de consumo no qual não se espera o que vai acontecer. No desenrolar dos fatos, ninguém está a salvo. Heróis e vilões morrem o tempo todo. Alguns aparecem, conquistam o coração dos fãs e morrem – isso pode ocorrer em algumas poucas páginas ou episódios. Assistir a essa série é sempre optar por aceitar as constantes reviravoltas. Talvez seja esse o segredo desse grande sucesso da TV: em Westeros não tem personagem grandioso com superpoderes; bobeou, dançou.
Cara, Barack Obama, o homem que preside a maior potência mundial do mundo, é fã da série e até pediu para a HBO adiantar os episódios para ele! Não é para menos, cada capítulo tem um custo médio de US$ 6 milhões, isso no chute mais baixo; já houve episódio que custou US$ 18 milhões. Não é à toa que até Obama gosta. Até porque GOT representa bem, apesar da fantasia, como funciona o jogo dos tronos na política que permeia o nosso mundo.
Em 2015, foi a série mais pirateada do mundo, ficando à frente de The Walking Dead, além de ser o programa mais pesquisado no Google em 2014.
A série vem comprovando o seu sucesso com inúmeros prêmios que tem recebido. Por exemplo, em 2016, ela entrou para a história como o programa que mais conquistou troféus no Emmy Awards, a maior premiação de TV dos EUA. Ao todo, foram 38 desde 2011, já com três estatuetas deste ano no pacote. Será que é pouco?
Sétima temporada só em 2017
Podemos dizer que a sétima temporada (e última, até o momento) da série é a mais aguardada pelos fãs, porque ela passou os seus precursores: os livros. Ou seja, tudo que chega nas telinhas em 2017, quando ela será lançada, é novidade para os consumidores deste jogo dos tronos. O grande clima é que, como na temporada anterior, ninguém sabe o que vai acontecer.
O sexto volume das Crônicas do Gelo e Fogo, The Winds of Winter (Os Ventos do Inverno, em tradução livre), parece que está às portas de seu lançamento, fazendo com que os leitores ávidos tenham um ataque cardíaco a cada especulação lançada na internet. Dizem por aí que de 2017 não passa. Não custa acreditar, não é? Afinal, já se passaram cinco intermináveis anos desde que Martin começou a escrever a continuação da trama. Chega a ser compreensível se pensarmos que o quinto livro tem 872 páginas, em letras de corpo 11. Ao todo são 3.640 páginas com narrações detalhistas ao extremo. Sabia que se juntarmos os cinco livros em uma mochila, teremos 5,5 quilos? Pois é. Mas vale a empreitada. Cada vez mais, GOT arrebanha (e perde também) fãs pelo mundo todo.
O mais legal de tudo isso é que a série da HBO parece que vai seguir caminhos diferentes do que está sendo escrito por George Martin. Ou seja, os fãs terão duas reviravoltas na trama.
Redes sociais
Além das produções milionárias, que resultam em efeitos, paisagens e cenas fantásticas, o grande segredo, não só de GOT e TWD, são as redes sociais. A interação dos atores e diretores com os fãs, os compartilhamentos de opiniões da plateia com análises, memes e prognósticos são um efeito engrandecedor dos programas que atraem cada vez mais adeptos só pela curiosidade.