Guti (PSB) venceu as eleições municipais, com votação recorde, porque captou o descontentamento generalizado do povo com a classe política, usando a cantilena apregoada pela Rede Sustentabilidade, do vice Alexandre Zeitune, de que poriam em prática o que foi batizado de “nova política”.
O desenrolar dos acontecimentos, porém, mostra que na prática o discurso está indo para o ralo.
Sem nenhum demérito às pessoas escolhidas, quero discutir os critérios reais que estão por detrás das escolhas.
1. Para a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, foi apresentado o pastor Arão dos Santos Silva, indicado pelo PSC (Partido Social Cristão), que compôs a coligação com o PSB, a Rede e o PPS. Isso é legítimo. Afinal, quem ajuda a ganhar ajuda a governar, diz a máxima alckminiana. Mas, o que isso tem de “nova política”? Ah! Guti precisa reforçar sua frágil base de sustentação no Legislativo e o PSC elegeu um vereador, o também pastor Anistaldo. Repito: isso é “nova política?”
2. Para a Secretaria de Segurança Pública, irá o competente vereador reeleito Gilvan Passos (PSDB). Sabe-se que ele preferiria apoiar Eli Corrêa Filho no segundo turno, chegou a acompanhar o deputado federal em campanha pela cidade, mas o partido resolveu apoiar Guti e o vereador ficou numa saia justa.
Gilvan é sargento da Polícia Militar. Essa seria sua principal credencial para assumir o posto. O presidente do Conseg Bom Clima, embora admirador da conduta do vereador, aponta os seguintes fatores negativos na escolha: Gilvan nunca teria participado ativamente nos debates e discussões sobre problemas de segurança na cidade, nunca teria se aproximado dos Consegs e, mais grave, poderá ter de subordinar profissionais de patente mais elevada que geralmente compõem escalões graduados da GCM.
Mas, afinal, por que Guti resolveu pôr Gilvan Passos em sua equipe? Simples. Porque o primeiro suplente do PSDB é o vereador Geraldo Celestino, que assim poderá assumir seu sétimo mandato. Ao lado de Guti, Celestino, capitaneou, com destaque, a oposição ao governo petista. Hábil articulador, sua presença na Câmara poderá ser de extrema utilidade para reforçar a base de sustentação. Nada contra Gilvan, nem contra Celestino, muito pelo contrário. Tenho ótimo relacionamento com ambos; Geraldo foi meu vizinho no Parque Cecap nos anos 80 e somos amigos desde então; ele também é anunciante de nossas revistas. Mas, de novo: isso é “nova política”.
3. Na campanha e mesmo depois, Guti e Zeitune falaram muito em reduzir o número de secretarias e de comissionados. Porém, entre os 13 nomes anunciados para compor a equipe foi anunciado o jornalista Rodrigo Buffo Bissaco (Curumu) para secretário da Comunicação. Muito correta a escolha, pois Curumu acompanha Guti há tempos, é de sua total confiança, foi muito competente na utilização das redes sociais nas campanhas de 2014 e 2016 e goza de bom trânsito com os colegas da imprensa local. Mas, efetivamente, qual a importância para os cidadãos da existência dessa Secretaria? Qual tem sido, de verdade, a utilidade de toda sua estrutura para levar informações relevantes para a população? Ela tem a maior Redação da cidade, e, apesar de contratar por licitação uma agência de publicidade para intermediar a contratação de anúncios, a Secretaria mantém uma equipe própria de criação. Essa área poderia ser muito enxugada e fazer parte da Secretaria de Governo.
4. O jornalista Pedro Notaro divulgou a possibilidade de Guti nomear o também competente vereador reeleito Lamé Smeili (PMDB) para alguma secretaria, para abrir vaga para o primeiro suplente Jorge Tadeu Mudalen Filho, que, como o próprio nome diz, é filho do deputado federal do DEM (e de Sandra Tadeu, vereadora reeleita em São Paulo). Nada contra Lamé, que é meu amigo, mas sua passagem pela Secretaria do Trabalho nada acrescentou de tão brilhante à gestão Almeida, que justificasse sua presença na nova equipe de governo. Lamé esteve com Eli no primeiro e segundo turnos, mas, como não tem vocação para ser oposicionista, provavelmente estaria na base de apoio do prefeito, desde que pudesse ver atendidas reivindicações dos bairros que compõem seus redutos eleitorais.
Qual seria, portanto, a razão para nomeá-lo? Unicamente atender a um desejo do deputado Jorge Tadeu. Qual a importância de ter o jovem primeiro suplente na Câmara? Desde quando isso é “nova política”?
5. Entre 13 nomes anunciados, a presidente do Sindicato dos Frentistas, Telma Cardia, é a única mulher, o que contraria a tendência de crescente participação feminina em postos de comando. Isso é “nova política”?
Vamos aguardar o anúncio dos nomes que faltam para compor o secretariado, para saber, afinal, qual será o efetivo e imprescindível enxugamento da máquina administrativa. Aí saberemos se há algo de real na tal “nova política” ou se isso não passou de mera retórica eleitoral.
Valdir Carleto