Janaína Biserra Barbosa Rocha, de 38 anos, moradora no Recreio São Jorge, em Guarulhos, passou anos tentando engravidar, o que finalmente conseguiu em agosto de 2016.
Estava muito feliz com sua gravidez e fez o tratamento pré-natal na Next Saúde, sucessora da Seisa, com o médico Ting Chao Tseng, chefe da Ginecologia e Obstetrícia do hospital, e, como estava bem acima do peso ideal, além de ser diabética e hipertensa, estava já marcada a cirurgia cesariana para o dia 31 de maio, devido a ser considerada uma gravidez de risco, o que era agravado pelo fato do bebê ser considerado “GIG”, sigla que define “grande para a idade gestacional”. Essa classificação é dada a fetos que ultrapassam a 3,7 kg.
Ela tomava regularmente os medicamentos para controlar o diabetes e a pressão, que era medida diariamente. Fazia dieta alimentar e controle de destro.
Em 28 de abril foi internada, permanecendo até 2 de maio, com controle glicêmico e da pressão arterial. Em 18 de maio, começou a sentir dores no ventre e nas costas, à uma hora da madrugada. Foi imediatamente para o hospital Next, no Centro de Guarulhos. Conta que permaneceu no corredor por quatro horas, aguardando atendimento: chegou à 1h36 e passou para a sala de pré-parto às 5h55; às 9h40, houve o rompimento da bolsa.
Às 10h45, o médico Guilherme Nicolau Câmara a encaminhou ao centro obstétrico para proceder ao parto normal. Segundo relato da paciente, no momento houve tumulto porque a criança era muito grande e não saía, por mais que as enfermeiras fizessem os exercícios e chegando a praticar até a “manobra de Kristeller”, que consiste em subir na barriga da gestante para forçar a saída do bebê.
Depois de todos os meses curtindo a gravidez e aguardando ansiosa para ter a criança nos braços, para sua tristeza e devido à demora no atendimento e às patologias das quais era portadora, e por ter havido insistência do médico em fazer o parto normal, em vez da cesariana, o bebê nasceu sem vida. Tinha 4,2 kg.
Laudo médico confirma erro médico
Inconformada com o desfecho trágico de sua gravidez, Janaína procurou o escritório Montanhani & Borges, dos advogados a advogada Sandra Montanhani e Edson Borges, que buscaram cercar-se da documentação relativa a todos os procedimentos pelas quais a paciente passou.
O médico Bruno Jordão analisou o caso, verificou os exames anteriores e a cronologia dos procedimentos. Segundo a ultrassonografia, o feto estava bem e, na opinião dele, somando o tamanho do bebê e as condições de saúde da mãe, agravadas pela obesidade grau III, seria recomendável a cesariana, em vez do parte normal.
Ele notou que foram feitos os devidos exames no bebê ao nascer, porém todos, de um a cinco minutos após, com resultado zero. Conforme documentos, a criança nasceu sem vida e foi reanimada. Há, porém, o relato de uma enfermeira que deixou o plantão às 11h30, mencionando “mãe chorosa por ter recebido notícia que RN foi a óbito”. A pediatra em seu relatório afirma que o recém-nascido nasceu parado, sem frequência cardíaca, sem esforço respiratório, sem tônus muscular, sem irritabilidade e reflexos e após 20 minutos transferiu para UTI neonatal, de onde o óbito foi declarado às 14h15.
O médico apurou que não foi locado fórceps, que é o aparelho obstétrico utilizado para facilitar a extração do feto; não foi realizada episiotomia, a qual ajudaria a passagem do bebê; na falta desse cuidado, houve lasceração do períneo da paciente. Na opinião dele, diabetes gestacional e a hipertensão, além da obesidade, dificultaram que a gestante tivesse força suficiente para ajudar o feto a sair. “Além da perda do filho, houve maior sofrimento emocional, físico e mental para a paciente”, atesta Jordão.
Medidas judiciais
O escritório de advocacia ingressou com ação cível contra as empresas que compõem o grupo Amil, do qual faz parte a Next Saúde; bem como contra alguns dos profissionais que atuaram no parto, por danos materiais e morais. Requereu, também, que o Ministério Público faça averiguação sobre eventual prática de crime.
OUTRO LADO
A Reportagem do Click Guarulhos enviou à Assessoria de Imprensa do Grupo Amil, ao qual pertence o Hospital Next Guarulhos, pedido de resposta a respeito do caso, tendo recebido a seguinte nota:
Esclarecimento
O Hospital NEXT Guarulhos informa que a paciente Janaina Biserra Barbosa Rocha foi admitida na instituição no dia 28 de abril, passando a ter acompanhamento e monitoramento clínico durante a evolução do trabalho de parto, cuja duração aproximada foi de nove horas. O hospital adota, em sua maternidade, as recomendações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e da Associação Médica Brasileira (AMB), inclusive para os casos de macrossomia fetal (fetos grandes para a idade gestacional). A instituição destaca que o monitoramento realizado – batimentos cardíacos do feto, dilatação do colo uterino e posição do bebê – e registrado no partograma indicou evolução adequada ao método adotado. A mãe, por sua vez, portadora de doenças crônicas anteriores à gravidez, não apresentava contraindicação médica ao parto normal e tinha esse desejo. A instituição esteve e continua à disposição da família para quaisquer esclarecimentos e informa não ter sido comunicada sobre o processo judicial.
Hospital NEXT Guarulhos