O premiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado traz para o Sesc Guarulhos, a partir desta quinta-feira, 14 de novembro, a exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada”. O registro, feito na década de 1980, mostra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, na região da Amazônia Paraense. Em mais de cinquenta fotos, a exposição revela o cotidiano da mina de onde foram extraídas toneladas de ouro em mais de uma década de exploração.
Pelas lentes do fotógrafo mineiro o visitante percorre a realidade da jazida, os trabalhadores em atividade, as condições precárias, e a “febre do ouro” que reuniu cerca de 50 mil garimpeiros no auge do período de extração. Sebastião Salgado passou um mês no local registrando a chegada de pessoas de todos os cantos do Brasil, o ambiente imerso na brutalidade do trabalho, os sonhos de quem vinha para construir seu futuro e a esperança de encontrar um dos materiais mais cobiçados na história da humanidade.
A exposição tem a curadoria e design de Lélia Wanick Salgado, responsável pela editoria e organização de todo o trabalho de Sebastião Salgado, co-fundadora da agência Amazonas Images e do Instituto Terra. A mostra, que teve sua estreia no Sesc Avenida Paulista em 17 de julho de 2019, já recebeu mais de 125 mil visitantes. Em Guarulhos, “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” ocupa espaço expositivo de 350m², tem entrada gratuita e permanece em cartaz até 16 de fevereiro de 2020.
Sebastião Salgado
Sebastião Salgado nasceu em 1944, em Minas Gerais, Brasil, e vive em Paris, França. É casado com Lélia Wanick Salgado, com quem tem dois filhos e dois netos.
Formado em economia, Salgado começou sua carreira como fotógrafo profissional em 1973, em Paris, e trabalhou com agências de fotografia – dentre as quais a Magnum Photos – até 1994, quando ele e Lélia Wanick Salgado fundaram a Amazonas Images, dedicada exclusivamente à sua obra.
Ele viajou por mais de 100 países para desenvolver seus projetos fotográficos. Além das publicações na imprensa, sua obra foi apresentada em livros como Other Americas [Outras Américas] (1986), Sahel: l’homme en détresse (1986), Sahel: el fin del camino (1988), Workers [Trabalhadores] (1993), Terra (1997), Migrations [Êxodos] e Portraits [Retratos de crianças do êxodo] (2000), Africa (2007), Genesis (2013), The Scent of a Dream [Perfume de sonho] (2015), Kuwait, a desert on fire (2016) e Gold (2019). Todos esses livros foram editados, concebidos e tiveram seu projeto gráfico elaborado por Lélia Wanick Salgado. Exposições itinerantes dessas obras foram, e continuam a ser, apresentadas em museus e galerias por todo o mundo.
Em 2013 foi lançado o livro De ma terre à la Terre [Da minha terra à Terra], um relato sobre a vida e a carreira de Salgado escrito pela jornalista francesa Isabelle Francq. Em 2014, estreou o documentário The Salt of the Earth [O sal da terra], codirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. Selecionado para os mais importantes festivais de cinema, ele recebeu o Prêmio Especial do Festival de Cannes de 2014, na seção Un certain regard, bem como o Prêmio César do cinema francês para melhor documentário em 2015, além de uma indicação para o Oscar de melhor documentário (longa-metragem) na 87a Cerimônia do Oscar, no mesmo ano.
Salgado está trabalhando atualmente em um projeto fotográfico sobre a Amazônia brasileira, seus habitantes e as comunidades indígenas; seu objetivo é ampliar a conscientização sobre as ameaças que elas enfrentam em consequência da exploração ilegal da madeira, da mineração do ouro, da construção de represas, da criação de gado e do cultivo de soja e, cada vez mais, das mudanças climáticas.
Gold – Mina de Ouro Serra Pelada
“O que dizer desse metal amarelo e opaco que leva homens a abandonar seus lares, vender seus pertences e cruzar um continente, a fim de arriscar suas vidas, seus corpos e sua sanidade por causa de um sonho? ”, escreveu Sebastião Salgado
Um morro que se transformou em cratera e a cratera que se findou lago, assim foi o processo de exploração da mina de ouro conhecida como Serra Pelada. Desde sua descoberta em 1979, o local, na atual cidade de Curionópolis, chegou a receber 50 mil garimpeiros, de diversas partes do país, em busca do mesmo sonho: enriquecer. O “formigueiro humano”, que recebeu o título de maior mina a céu aberto do mundo, tinha um fluxo intenso de trabalho, com condições precárias e muitos olhos atentos. Tudo o que era retirado da terra tinha roteiro e destino final, e cada metro quadrado um dono. Com 200 metros de diâmetro e mesma profundidade, o garimpo era repartido em lotes de 2×3 metros, e os trabalhadores divididos segundo suas funções: meia-praça, cavador, apontador, apurador e o formiga. Não eram permitidas mulheres, armas e álcool, sendo os policiais federais responsáveis por conter a violência. Em 1986, neste ambiente de tensão e esperança, chegava na região Sebastião Salgado, fotógrafo que tinha no currículo trabalhos para agência Magnum e registros icônicos como o do atentado ao presidente norte-americano Ronald Reagan.
Na exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” os visitantes reencontram esta história, na qual o mineral protagoniza momentos abruptos no itinerário antrópico: a movimentação de massas humanas, mudanças ambientais e marcas permanentes na sociedade. Em 56 fotografias, é possível acompanhar o olhar de Salgado pelas diversas vidas que passaram, permaneceram ou se perderam no garimpo paraense. As trilhas encravadas na cratera, os garimpeiros com sacos de terra nas escadas de madeira (apelidadas sugestivamente de “adeus mamãe”), o sobe e desce de corpos cobertos de lama e suor, o desapontamento em cada vão aberto sem uma pepita achada e a euforia quando do encontro com um lampejo dourado. A paisagem de Serra Pelada que Sebastião Salgado apresenta nesta exposição revela as aflições, alegrias e os anseios de um povo que largou suas vidas e suas famílias para irem desbravar uma terra com configurações inóspitas e de futuro incerto. “O ouro é um amante imprevisível. Enquanto alguns garimpeiros afortunados partiram da Serra Pelada com dinheiro, compraram fazendas e empresas e nunca se sentiram traídos, outros, que encontraram ouro e pensaram que havia mais fortunas esperando por eles, acabaram, por fim, perdendo tudo o que tinham obtido. Com o amigo do meu pai aconteceu isso. Ele achou 97 kg de ouro, reinvestiu seus ganhos em novos lotes e equipes adicionais de peões para, no fim, deixar a mina de mãos vazias” – comenta o fotógrafo.
Com curadoria e design de Lélia Wanick Salgado, fotografias inéditas guardadas há trinta anos chegam a público, revelando a dimensão e a egrégora por trás deste capítulo importante da história nacional. Serra Pelada permanece na memória coletiva e na visão de Sebastião Salgado como uma das mais impetuosas incursões humanas impelidas pela ambição. “Por uma década, ela evocou o El Dorado há muito prometido, mas, atualmente, essa corrida do ouro mais selvagem que o Brasil já teve se tornou apenas uma lenda, que permanece viva por meio de algumas lembranças felizes, muitos arrependimentos dolorosos — e fotografias”.
Serviço
Exposição “Gold – Mina de ouro Serra Pelada”
De Sebastião Salgado
Quando: de 14 de novembro a 16 de fevereiro de 2020; terças a sextas, das 9h às 21h30, sábados, das 9h às 20h, domingos e feriados, das 9h às 18h
Espaço Exposição – Térreo
Grátis – sem retirada de ingressos
Classificação: Livre
Agendamento de grupos: agendamento@guarulhos.sescsp.org.br
Sesc Guarulhos
Endereço: Rua Guilherme Lino dos Santos, nº 1.200, Jardim Flor do Campo
Horário de funcionamento: De terça a sexta, das 9h às 21h30. Sábados, das 9h às 20h e domingos e feriados, das 9h às 18h.
Telefone: (11) 2475-5550
Como Chegar:
Ônibus: Quatro linhas passam na rua do Sesc Guarulhos: 233 Cocaia/Cidade Satélite de Cumbica; 356 B Circular Saúde (via Tiradentes); 356 A Circular Saúde (via Taboão); 278 Osasco (Centro) – Guarulhos (Term. Urb. Guarulhos). Outras 15 linhas de ônibus passam na Av. Monteiro Lobato, a 300 metros do Sesc. A 900 metros, fica o Terminal de Ônibus CECAP – de lá, são 12 minutos a pé.
Trem: Na Linha 13 (Jade) da CPTM, a Estação Guarulhos CECAP está a 2 km da unidade – são 24 minutos de caminhada, 18 minutos de ônibus ou 5 minutos de carro.