A imensa maioria da população de Guarulhos não acompanha a vida política da cidade. As pessoas têm que sair cedo de casa, enfrentam horas no caminho entre a residência e o trabalho, retornam cansadas e estão preocupadas em manter suas famílias, em educar seus filhos e procuram deixar um legado positivo.
Enquanto isso, os representantes que o povo elegeu cuidariam de exercer os cargos para os quais foram escolhidos com o máximo de zelo e dedicação, cada um cumprindo com dignidade as funções que lhe cabe.
A independência dos poderes da República prevê papéis distintos a serem desempenhados pelos membros de cada um deles: Executivo, Legislativo e Judiciário. Nenhum poder deve subordinar-se a outro. Ideal seria que cada um cumprisse seu dever e que houvesse respeito e harmonia entre os poderes. Como o ideal costuma viver longe da realidade, o Judiciário é muitas vezes chamado a agir para corrigir falhas dos outros poderes.
Guarulhos está vivendo um momento atípico, no qual seres que só aprenderam a dizer Amém, de repente, acham-se no direito de zombar da paciência do povo, em um jogo de empurra-empurra, de faz de conta, no qual o interesse público é o que menos importa.
Há entre todas as peças desse complicado jogo de xadrez vários que eu considero amigos. Nada tenho de pessoal contra nenhum deles, mas não posso me calar, sob pena de jogar no lixo nada menos de 44 anos de exercício de Jornalismo digno.
Está errado o prefeito Guti, ao pretender que a aprovação de suas contas de 2022 ocorra antes da votação de importantes projetos, como o Orçamento de 2025 e o que prevê subvenções à Maternidade JJM e ao Hospital Stella Maris.
Estão errados os vereadores que, para não dar a Guti o gostinho de ter aprovado um projeto de sua iniciativa, que congelaria o valor do IPTU em 2025, incluíram no projeto do Orçamento um item com essa previsão.
Está errado o vereador Geraldo Celestino, ao protelar o parecer da Comissão de Finanças e Orçamento, afirmando que o fará em 30 de dezembro. Ele está certo quando à desnecessidade de fazê-lo já, mas é evidente que não está decidindo tecnicamente, mas por pirraça, por ter perdido a reeleição para o ex-chefe de gabinete de Guti, Maurício Segantin, pela ínfima diferença de 14 votos.
Está errado o prefeito eleito, Lucas Sanches, ao usar as redes sociais para destilar veneno contra Guti. Está certo em parte da argumentação, mas é evidente que alimenta a esperança de ver rejeitadas as contas do atual prefeito, para torná-lo inelegível.
Está errado o vice-prefeito eleito, Thiago Surfista, em seu destemperado discurso contra a pretensão de Guti de ter as contas aprovadas ainda neste ano. Está certíssimo quanto a realmente ser um capricho do atual prefeito, mas, ao citar que há gente morrendo na porta dos hospitais, não se parece em nada com aquele Thiago Surfista tão calado quando no exercício do mandato de vereador e tão confortável na cadeira de secretário do Meio Ambiente, durante anos da gestão de Guti, que agora critica.
Está errado o presidente Ticiano em agir como marionete no meio desse conflito de interesses. Aplauda-se a fidelidade canina a Guti que procura exercer até o último dia do mandato do atual prefeito, mas o interesse do povo precisa estar acima até dessa qualidade. Se Celestino se recusa a elaborar o parecer que permitiria votar agora as contas de 2022 de Guti, que deixe de lado esse projeto e ponha em andamento todo o restante da pauta, com ênfase para a votação do Orçamento e das subvenções.
Estão errados os vereadores em sua grande maioria, ao aceitar passivamente que esse jogo de empurra se arraste. Se o presidente não toma atitude e a maioria quer que o IPTU continue congelado, que assinem um requerimento de urgência para votar o projeto do Orçamento com esse item, ou o projeto do Executivo com a mesma finalidade. Na falta do presidente, os vices não podem comandar a sessão?
Quem tentou assistir à sessão extraordinária desta quinta-feira certamente ficou enojado com o ar de deboche e de gazeteiros dos vereadores diante das câmeras, batendo papo amistosamente, rindo, brincando, falando ao telefone. E o povo, que paga seus subsídios e os salários de suas equipes, que se dane, que espere? Cadê a sessão extraordinária? Talvez essa tenha sido uma sessão mais do que ordinária, isso sim!
Não foi para isso que os senhores foram eleitos! Tenham sido reeleitos ou não, os senhores têm de cumprir com dignidade o mandato que lhes foi confiado até 31 de dezembro. Tratem de elaborar os pareceres, caso estejam pendentes, para a votação do Orçamento e das subvenções sociais. E que se ponha em discussão e votação os itens essenciais deste ano. Se possível, resolvam ao menos o que é mais importante ainda nesta sexta-feira, 20/12.
Que os que não foram reeleitos possam sair de cabeça erguida, conscientes de que fizeram o melhor pelo povo que os elegeu para o mandato que se finda. Que os reeleitos façam por merecer mais esse voto de confiança.
O Poder Legislativo merece todo meu respeito e de toda a população. Que aqueles que o compõem sejam os primeiros a respeitá-lo.
Valdir Carleto
jornalista – MTb 16674
link para assistir às sessões da Câmara Municipal de Guarulhos: https://www.youtube.com/user/tvcamaraguarulhos