A maior cidade do País corre o risco de ser administrada pelo apresentador de TV Celso Russomano (PRB-SP), que foi o deputado federal mais votado do País em 2014. Isso porque um dos mais fortes concorrentes, o também apresentador de TV Luiz Datena, desistiu de ser candidato a prefeito de São Paulo.
Ele havia manifestado a vontade de disputar a eleição para a prefeitura paulistana e filiara-se ao PP (Partido Progressista), que tem o deputado Paulo Salim Maluf como principal líder. Datena escolhera esse partido por sua afinidade com o Delegado Olim, deputado estadual em São Paulo, que era cogitado para ser seu vice.
Ao anunciar hoje, na rádio Bradesco Esportes, do grupo Bandeirantes, sua desistência, atribuiu a decisão a uma nova denúncia contra o PP, a de que integrantes da legenda teriam desviado R$ 357,9 milhões da Petrobras. Outro motivo é que teriam dito a ele que deveria disputar a candidatura, no âmbito do partido, com Maluf: “Preferiria disputar com Marcola”, argumentou.
INCOERENTE
Se denúncias de corrupção constituem motivo para que ele não dispute por um partido, como se justifica que tivesse se filiado ao PP de Maluf, que há décadas é acusado de desvio de verbas públicas e manutenção de contas secretas em paraísos fiscais?
Além do mais, é notório que Maluf pode querer disputar a prefeitura de São Paulo mais uma vez, pois ainda tem razoável cacife eleitoral. Afinal, depois de virem à tona tantas falcatruas milionárias de outros partidos, ele quase deveria receber uma certidão de bom comportamento.
POR QUE RISCO?
Russomano vem sendo reeleito deputado federal com votação crescente. Em 2014, teve mais de 1,5 milhão de votos. Qual a atuação que ele teve como deputado para receber essa montanha de votos? Praticamente nenhuma. Nada de expressivo ele produziu para merecer isso. Graças à sua forte exposição na TV Record, em cenas nas quais aparece como defensor do direito dos consumidores, figurou na mente dos eleitores como paladino da justiça, de tal forma que conseguiu ajudar a eleger o guarulhense Jorge Wilson deputado estadual, com mais de 180 mil votos. Seu companheiro de dobradinha foi candidato a vereador em Guarulhos diversas vezes, sem conseguir ser eleito. A TV foi seu grande trunfo.
O eleitor brasileiro está tão descrente da classe política, que a cada eleição escolhe alguém para ser depositário do seu desabafo. Nos tempos da cédula de papel, o povo escrevia impropérios. Na década de 1990, fez Enéas Carneiro, com seu jeito caricato, ser campeão de votação. Em 2010, foi a vez do humorista Tiririca. Em 2014, Russomano.
O prefeito Fernando Haddad está tendo péssima avaliação, e seu partido (PT), sofrendo forte rejeição. Será difícil reeleger-se. O PSDB não tem nomes fortes ainda. Marta Suplicy quer ser candidata pelo PMDB, ao qual está filiado o secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita, que Haddad quer para seu vice. As chances dela esbarram no fato de ter imagem vinculada ao PT. O ex-prefeito Kassab pode tentar voltar, a bordo de seu PSD, com apoio do governo federal, se Haddad empacar.
Datena tenderia a embolar o jogo, pois Russomano não seria o único com cara de “não-político”. Na verdade, o justiceiro achou uma fórmula para ser político sem parecer que seja, desde que soube explorar bem, na TV, a morte da esposa e, depois, escolher a bandeira do consumidor como alavanca eleitoral.
Enfim, qual o efetivo preparo de Celso Russomano para administrar São Paulo?
Tem mais: ainda que não se eleja, se fizer boa campanha, ele pode ajudar Jorge Wilson a disputar com alguma chance o Bom Clima.