Por Cris Marques
Fotos: banco de imagens
e arquivo pessoal
Levantar da cama, sair do sofá ou decidir fazer uma atividade física nem sempre são atitudes fáceis de tomar, seja por preguiça, cansaço ou até estafa, o que é bem mais preocupante, já que esta última pode ser relacionada a algumas enfermidades. Mas o problema mesmo é que é difícil identificar um ou outro. De acordo com Maíra Rosa Apostolico – enfermeira, doutora em ciências pela EEUSP, pós-doutora em saúde coletiva pelo ENS-EEUSP e professora do programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em enfermagem da universidade UNG -, apesar das definições no dicionário para estas palavras serem similares, do ponto de vista da saúde elas têm compreensões bem diferentes.
“A preguiça não é considerada uma doença, mas um estado de disposição para a ação, apontada, muitas vezes, como o limite que antecede o desempenho de exercícios físicos ou mentais e a adoção de novos hábitos. O cansaço, por si só, também, embora seja posterior à atividade. Já a estafa, sim, está relacionada a um estado de saúde, associado ou não a outras patologias, e que pode chegar ao comprometimento do desempenho de afazeres cotidianos. Algo que vem sendo bastante difundido é a Síndrome de Burnout, considerada uma reação de estresse, que se manifesta como uma exaustão, um sentimento de frustração e fracasso, relacionado ao ambiente de trabalho”, afirma.
Para ela, essas sensações são desencadeadas pela urgência que a sociedade de hoje exige e suas rotinas apertadas. “Há inúmeros estressores em nosso dia a dia e isso provoca reações diferentes e flutuações de afeto em cada um. Entretanto, algumas pessoas persistem em quadros depressivos, caracterizados pela menor disposição frente às demandas e acontecimentos. Há também as causas relacionadas à atividade laboral. Já se sabe que algumas profissões demandam mais recursos emocionais e físicos dos trabalhadores, impondo-lhes uma carga maior de estresse. E ainda não se pode afastar causas físicas e orgânicas para estes sintomas, que podem ter diferentes origens”.
Limitadores do desempenho físico e mental
Mesmo que cada indivíduo reaja de forma diferente e não exista um padrão, a professora afirma que a influência da preguiça, cansaço ou estafa na vida de cada um deve ser analisada dentro de um contexto particular, levando em consideração de que forma as necessidades estão sendo comprometidas. “É extremamente relevante observar os sinais que o corpo e a mente apontam: se eles dizem que algo não vai bem, talvez seja preciso modificar hábitos, horários ou rotinas. Atualmente, há um interesse muito grande em medicalizar tudo, inclusive sentimentos, sofrimentos cotidianos, estados de espírito e o próprio cansaço, sem se observar de fato o que está provocando o quadro. Isso chama a atenção para o desrespeito aos nossos próprios limites”. Para ela, a procura médica faz-se necessário quando as chamadas flutuações de afeto tornam-se persistentes e limitantes. Manter os exames de saúde periódicos em dia também é fundamental para um diagnóstico precoce de qualquer quadro mais grave.
Tempo para respirar
Com tantas tarefas diárias, tirar um tempo para relaxar, curtir um momento de lazer ou aproveitar aquela preguiça para passar o dia no sofá pode, sim, ser benéfico. “Vivemos hoje em uma lógica de produção e consumo que nem sempre admite que o sujeito relaxe ou goze de situações menos aceleradas ou intensas. É como se, a todo instante, as pessoas tivessem que produzir algo material, sentindo-se culpadas ao agirem diferente. Nós nos esquecemos de que isso também pode significar uma oportunidade de criatividade, imaginação, elaboração; enfim, algo que dê suporte a outras atividades produtivas. Nesta perspectiva, o “dia de curtir a preguiça” pode ser muito benéfico. Mas eu prefiro chamá-lo de período de descanso, sem a carga negativa que o termo traz e sem a culpa”, avalia.
Dose de disposição
Maíra ainda garante que a mudança de alguns hábitos pode ajudar a mandar a indisposição pra bem longe. “Às vezes, as causas do cansaço podem estar relacionadas a uma má alimentação, deficiência de nutrientes, excesso de peso corporal, entre outras causas relacionadas ao consumo inadequado de alimentos. Uma avaliação é indispensável nesses casos, principalmente para um projeto de reeducação alimentar. Já sobre suplementação vitamínica, só é uma boa ideia se for criteriosamente indicada por um profissional de saúde. O excesso de vitaminas é tão prejudicial quanto a falta delas”, finaliza