Por Val Oliveira
Fotos: banco de imagens

Vivendo em uma sociedade que impõe cada vez mais compromissos e exige respostas ainda mais rápidas, nos esquecemos da saúde do sono. Dessa forma, não é incomum encontrar alguém que logo pela manhã relate a sensação de ter sido “atropelado por um caminhão”, mesmo depois de ter dormido por horas.

Uma noite de sono reparador é fundamental para o funcionamento do organismo e da vida como um todo, na medida em que noites mal dormidas podem afetar o humor, a atenção, a memória, dificultar relacionamentos interpessoais, causar prejuízos no trabalho e no aprendizado na escola, entre outros. Além disso, podem representar riscos e agravar doenças crônicas como, por exemplo, diabetes e hipertensão arterial, distúrbios psiquiátricos ou alterações cognitivas, de memória e atenção.

De acordo com Anna Karla A. Smith, foto à esquerda, neurologista, neurofisiologista, médica do sono do Instituto do Sono e membro da Sociedade Brasileira do Sono, pode ser classificado como distúrbio qualquer alteração qualitativa ou quantitativa no sono que promova a sensação de sono insuficiente, de má qualidade ou não reparador, assim como fatores que causam sonolência excessiva e em momentos inusitados.

 

 

Matéria Distúrbios do sono | Click GuarulhosDistúrbios comuns

Segundo estudos, existem mais de cem tipos de distúrbios do sono e do despertar. Essas anomalias estão divididas em problemas para adormecer ou permanecer dormindo, dificuldade para conservar-se acordado, problemas para ter uma rotina regular de sono e demais comportamentos incomuns durante o sono.

“Nas mulheres, o mais comum é a insônia. O percentual varia entre 30% a 40%, dependendo do local. A apneia e o ronco são outros distúrbios dentro dos transtornos respiratórios do sono. De acordo com dados de um estudo recente, conduzido pela equipe do Instituto do Sono, em São Paulo, a apneia em si tem uma prevalência na cidade de São Paulo de cerca de 30%. Estudos internacionais relatavam uma prevalência de 4%, mas há uma variabilidade geográfica. A predominância dos distúrbios respiratórios é maior nos homens. Ocorrem ainda os distúrbios por movimentação anormal involuntária de membros, os comportamentos anormais – parassonias (sonambulismo) – e, por último, os distúrbios que cursam com hipersonia (sono excessivo), sendo o principal a narcolepsia”, diz a médica do Instituto do Sono.

 

Insônia

A profissional explica que a insônia não é baseada no número de horas dormidas. Na verdade, tanto a sensação de dormir pouco como a sensação de má qualidade, que é aquela impressão de que o sono não foi satisfatório ao acordar, também constituem um tipo de insônia. “Em termos de horas, existe uma média populacional de seis a oito horas, mas as pessoas possuem variações individuais. Existem aqueles que dormem cinco horas e ficam muito bem. A insônia é esta situação em que o sono torna-se insuficiente em termos de qualidade e quantidade”, diz.

 

Fatores que colaboram para o desenvolvimento da insônia:
1. Erros comportamentais, tais como ingestão de cafeína excessivamente, uso de álcool e ou drogas estimulantes, irregularidade no horário de deitar, exercício físico e uso de eletrônicos à noite, entre outros;
2. Ansiedade, estresse e depressão;
3. Distúrbios do sono, como apneia do sono, síndrome das pernas inquietas e parassonias (sonambulismo e outros eventos relacionados ao sono) não tratadas.

 

Matéria Distúrbios do sono | Click GuarulhosNarcolepsia

A narcolepsia ou sonolência é um distúrbio caracterizado por sonolência excessiva durante o dia, mesmo quando a pessoa dormiu bem à noite. Os ataques de sono podem ocorrer a qualquer momento e em situações incomuns. “Os portadores de narcolepsia entram direto, subitamente, na fase do sono REM (em inglês, Rapid Eye Movement, ou seja, movimento rápido dos olhos), no qual ocorre perda de tônus muscular. No caso do narcoléptico, estes ataques de perda de tônus muscular podem ocorrer generalizados ou de maneira segmentar (cataplexia)”, detalha Anna Karla.

 

Sintomas específicos

Assim como há grande variedade de distúrbios do sono, os sintomas também são diversificados e cada tipo de distúrbio tem sua característica e sintomatologia. “Na insônia os distúrbios respiratórios do sono, fadiga, cansaço e sonolência diurna são comuns. A apneia tem também a característica das pausas respiratórias observadas por terceiros e o ronco ruidoso. Para as parassonias, o relato é de comportamento anormal. A narcolepsia, por sua vez, é caracterizada pelo sono em excesso durante o dia, mesmo tendo dormido bem à noite.”

 

 

Matéria Distúrbios do sono | Click GuarulhosDiagnóstico e tratamento

O diagnóstico é obtido por meio de consulta com especialista, que pode aplicar questionários específicos e realizar exames físicos de acordo com a queixa da pessoa. “O exame de polissonografia é recomendado em praticamente todos os distúrbios. Outras ferramentas importantes são o diário do sono e a actigrafia”, observa a médica, dizendo também que os tratamentos e cuidados variam de acordo com o tipo de distúrbio.

 

Prevenção

Como forma de prevenção, é recomendado procurar o médico quando perceber que o sono é de má qualidade, seguir uma boa higiene do sono, manter o peso corporal estável e praticar exercícios físicos. “Além disso, deve-se tratar as comorbidades psiquiátricas”, completa a neurologista.

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Higiene do sono

 

Uma rotina regular de sono pode contribuir para melhorar tanto a insônia como a sonolência. Para tanto, basta seguir as recomendações do Instituto do Sono, que estão disponíveis no site da entidade, e praticar a higiene do sono:

  • Tenha horários regulares para dormir e despertar;
  • Vá para a cama somente na hora de dormir;
  • Tenha um ambiente de dormir adequado: limpo, escuro, sem ruídos e confortável;
  • Não faça uso de álcool ou café, determinados chás e refrigerantes próximos ao horário de dormir;
  • Não faça uso de medicamentos para dormir sem orientação médica;
  • Se tiver dormido nas noites anteriores, evite dormir durante o dia;
  • Jante moderadamente em horário regular e adequado;
  • Não leve problema para a cama;
  • Realize atividades repousantes e relaxantes preparatórias para o sono;
  • Seja ativo física e mentalmente.

 

Especialista

Está em dúvida sobre qual especialista buscar para cuidar dos distúrbios do sono? Saiba que, além do médico do sono, profissionais neurologistas, otorrinolaringologistas, pneumologistas e psiquiatras estão aptos a orientá-lo e ajudá-lo a dormir melhor.
www.sono.org.br/sono/disturbiosdosono.php

 

Confira os outros temas abordados na capa desta matéria da RG:

 

Introdução: por um sono de qualidade
Sonambulismo: dormindo acordado
Paralisia do sono
Como a ciência analisa os sonhos
O lado sobrenatural dos sonhos