Além do alto índice de abstenções verificado no primeiro turno deste ano, foi bastante elevado também o número de votos em branco e nulos. Em Guarulhos, as abstenções foram menores do que a média do Brasil, mas o percentual de brancos e nulos foi bem superior.
No Estado de São Paulo as abstenções chegaram a 27,3%, a média nacional foi de 23,1% e em Guarulhos, de 19,99%. Dos 875.880 eleitores inscritos, compareceram 700.764. Abstenção, portanto, de 175.116 eleitores.
A média nacional de votos deixados em branco foi de 3,45%. Em Guarulhos, para prefeito os votos em branco somaram 44.313, o que equivale a 6,32% dos votantes. Para vereador, 40.673 votos em branco, o que equivale a 5,81%.
Quanto aos votos nulos, a média nacional foi de 6,19%. Para prefeito de Guarulhos, os nulos foram 84.230, o que equivale a 12,02%. Para vereador, houve 59.864 votos nulos, correspondendo a 8,54%.
Somados os brancos e nulos para prefeito somaram 128.543, nada menos de 18,35% dos votantes. Para vereador, 100.537, o que corresponde a 14,35%. Os votantes para prefeito foram 572.221. Do total de 875.880 eleitores, 303.659 não votaram para prefeito. Guti obteve 261.211 votos (45,65% dos votos válidos) e Elói Pietá, 184.502 (32,24%). Para vereador, os votantes foram 600.227, ou seja, 275.653 não votaram para vereador.
Análise
Apesar do grande número de eleitores, superior ao de várias capitais, Guarulhos padece da falta de uma televisão aberta, por meio da qual os candidatos pudessem tornar-se mais conhecidos. As formas tradicionais de fazer campanha estão esgotadas, as redes sociais foram bem utilizadas por muitos candidatos, mas, ainda assim, o imenso número de votos em branco e nulos para prefeito demonstra que pelo menos um a cada cinco eleitores não queria votar nos nomes mais conhecidos e não tinha informações sobre as alternativas disponíveis.
Para vereador, foi também elevado o índice de brancos e nulos, mas bem inferior ao verificado para prefeito. Isso tem explicação: com mais de mil candidatos à Câmara, é muito difícil um eleitor não conhecer de perto pelo menos um candidato. Além disso, são candidatos à Câmara que contratam milhares de pessoas para trabalhar na boca de urna, o que é proibido, mas tem sido tolerado. A tendência é que ao menos parte dessas pessoas, ainda que nada façam como campanha, votem nos candidatos que as contrataram, forma indireta de compra de votos, o que fatalmente reduz o número de brancos e nulos para vereador, na proporção do registrado para prefeito.
No geral, as abstenções – que se devem a fatores diversos – mais os brancos e nulos, demonstram o descrédito da classe política perante o eleitorado. Por outro lado, a julgar pela reeleição de muitos vereadores e das esposas que concorreram no lugar de alguns deles, a estratégia de anular ou deixar em branco não está surtindo efeito como forma de protesto. Da mesma forma, se os dois candidatos a prefeito com maior índice de rejeição foram para o segundo turno, isso mostra que quem anulou ou deixou o voto em branco contribuiu para que eles obtivessem essa vitória até aqui. Mostra também que as novidades que apareceram não convenceram o eleitor ou não ficaram por ele conhecidas. No caso de Fran Corrêa, que fez campanha forte e teve centenas de candidatos à Câmara carregando seu nome, vale a primeira hipótese: não dá pra dizer que seu nome não chegou a toda a cidade. Ela ficou em terceiro lugar com 60 mil votos, menos de um terço dos votos de Elói, menos de um quinto da votação de Guti e menos da metade da soma de brancos e nulos. Se pretende continuar disputando a Prefeitura, precisa mudar suas estratégias. E se o povo quer mostrar repúdio à classe política, está provado que anular o voto ou deixar em branco não dá resultado. O povo também precisa mudar as estratégias.
Valdir Carleto