Perdemos José Alberto Valadares, o Argentino. Ele faleceu nesta sexta-feira, 29 de outubro, ao que tudo indica vítima de um infarto.
Devo a ele uma sugestão que revolucionou o alcance do Jornal Olho Vivo na cidade, no início dos anos 1990.
O salão dele ficava na avenida Tiradentes, quase esquina com rua Brás Cubas. Eu estava voltando do Bom Clima, onde havia passado por estabelecimentos onde exemplares tinham acabado de ser distribuídos. Estava chateado, porque em um bar onde parei para tomar um café, vi o jornal colocado sobre as garrafas de bebidas e perguntei, como quem não quer nada, o que o balconista achava do Olho Vivo. O rapaz respondeu com sinceridade: “Pra mim não serve pra nada. Não tem nenhum assunto que me interessa. Mataram um vizinho meu. Procurei nesse jornal e não disseram uma palavra”. Eu entendi que o moço estava certo, pois não pediu para receber o jornal e nós estávamos entregando a ele algo que para ele não tinha utilidade.
Comentei a respeito com o Argentino. Ele pediu que o acompanhasse até uma padaria que funcionava na rua Brás Cubas, onde hoje é uma livraria. Lá, me mostrou, jogado na escadaria, um suporte de madeira que havia pertencido ao jornal Gazeta de Guarulhos, dos irmãos Joel e José Carlos Figueiredo. A ideia é que deixássemos jornais naqueles displays em locais de comércio. Assim, só pegaria o jornal quem efetivamente o quisesse. O primeiro seria no salão El Argentino Cabeleireiros, pois a parada de ônibus ficava bem em frente.
Pedi ao proprietário do estabelecimento se poderia levar o artefato de madeira. Procurei uma marcenaria e encomendei 20 daqueles suportes. Fizemos também plaquinhas com os dizeres: “Retire aqui seu exemplar GRÁTIS”.
Comecei a via-sacra, visitando estabelecimentos e pedindo se podia colocar um display, com o argumento de que o jornal seria um brinde aos clientes e poderia até atrair mais frequentadores. Foi difícil completar os 20 primeiros locais, mas, dali em diante, não vencíamos fazer displays, tantos eram os pedidos para que ampliássemos a distribuição, pois os comerciantes perceberam que era positivo para seus estabelecimentos. Passaram a ser feitos de ferro. Chegamos a ter mais de 600 displays espalhados em muitos bairros de Guarulhos, até que em 2009 deixei a direção do jornal.
Esse é apenas um exemplo da prestação de serviços que o Argentino propiciou a Guarulhos. Tendo fundado o Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Bom Clima, foi um dos mais atuantes da cidade durante muitos anos, obtendo inúmeras melhorias na área de segurança pública e em outros setores.
Fiel a suas opiniões, não hesitava em discutir assuntos da política local, posicionando-se com firmeza. Muitas vezes pensávamos de forma divergente sobre algo, mas sempre mantendo o respeito mútuo. Deixei de frequentar seu salão, porque ele se recusava a cobrar o corte de cabelo. E eu fica constrangido em retornar. Ele brincava, dizendo que o meu corte teria de cobrar em dobro, “porque dava muito trabalho achar onde tinha cabelo na minha cabeça”.
A histórica rivalidade entre brasileiros e argentinos no futebol nunca impediu que Alberto Valadares fosse querido pela imensa maioria dos que com ele conviveram. O Argentino deixa um legado de bons serviços prestados à coletividade. Mais do que isso: ele foi um argentino que deixou muitos exemplos de exercício da cidadania aos brasileiros.
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Argentino deixa muitos bons exemplos para os brasileiros
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