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Projeto de túnel na avenida Paulo Faccini tende a causar polêmica

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A Prefeitura de Guarulhos divulgou na quinta-feira, 14/7, um release (informativo para a Imprensa), no qual divulga reunião havida entre secretários municipais e representantes do governo estadual, para discutir a possibilidade de ser incluída no projeto da linha 19-Celeste do Metrô a construção de uma passagem subterrânea de veículos no cruzamento das avenidas Paulo Faccini e Tiradentes, região central da cidade.

O informativo cita que esse é um dos cruzamentos mais movimentados da região central e que a cogitada construção seria uma solução para a lentidão do trânsito que é verificada em vários horários no local.

Após reproduzir os argumentos da gestão municipal para essa proposta, farei apontamentos que merecem uma reflexão sobre a necessidade e exequibilidade dessa obra.

O que diz o release

“A Prefeitura apresentou ao Governo do Estado um projeto preliminar para a construção de uma passagem subterrânea na avenida Paulo Faccini sob a avenida Tiradentes em reunião realizada nesta quarta-feira (13) em São Paulo com representantes da administração municipal, da Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos e do Metrô. O objetivo é firmar uma parceria entre Estado e município neste momento em que o projeto da Linha 19-Celeste do metrô, que ligará Guarulhos a São Paulo, já está em andamento.

O secretário municipal de Governo, Edmilson Americano, explicou que o projeto inicial prevê a construção da passagem subterrânea na Paulo Faccini, eliminando o semáforo no cruzamento com a avenida Tiradentes, o que deve ajudar a acabar com o estrangulamento do trânsito naquela região. “Trata-se da principal esquina do Centro, que precisa de uma solução inteligente e que envolva os menores custos possíveis”, disse.

A opção por uma passagem subterrânea, segundo Francisco Carone, secretário municipal de Obras, evita uma série de desapropriações no entorno, que seriam necessárias no caso da construção de um sistema elevado por viadutos, por exemplo. Esse sistema construtivo é mais simples e eficiente, já que não necessita de alças de acessos ou grandes obras de arte’, explicou.

Luigi Lazzuri, secretário municipal de Transportes e Trânsito, aponta que a ligação subterrânea irá facilitar o tráfego de ônibus no corredor da Tiradentes, já que eliminará o semáforo em um ponto importante, onde é comum haver congestionamentos, principalmente nos horários de maior movimento. ‘Estamos pensando em melhorar o escoamento dos passageiros pelo transporte público, ainda mais que exatamente naquele ponto está programada a construção de uma estação do Metrô, que ligará Guarulhos ao centro da capital’, disse.

Os secretários guarulhenses apresentaram o projeto a Paulo Meca, superintendente do Metrô, a Paulo Paixão, diretor do Metrô, e ao secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Marco Assalve. A Prefeitura de Guarulhos pretende incluir a passagem subterrânea no projeto de construção do Metrô na cidade, incluindo a execução do projeto executivo e a obra. ‘O Metrô vai chegar a Guarulhos e mexer com toda a paisagem urbana da região’, finalizou Americano.”

Essa obra é mesmo necessária?

O primeiro questionamento que faço é se essa obra é mesmo necessária. Troquei ideias com pessoas que utilizam diariamente esse cruzamento, nos dois sentidos, em horários diferentes, e nenhuma delas considera vital que haja uma construção para eliminá-lo. A espera para abertura do semáforo é algo absolutamente normal em todas as metrópoles e, salvo imprevistos, como algum acidente ou algo que impeça o tráfego em uma das faixas, não se tem verificado grandes congestionamentos por ali.

 

Desde a gestão do prefeito Paschoal Thomeu se cogita que sejam eliminados os semáforos naquele local. A projeção que se vê na foto – notadamente antiga – pode ser fruto de um ensaio desenvolvido nas administrações do PT, muito embrionário, pois um efetivo projeto demandaria estudos aprofundados e custaria muito dinheiro aos cofres públicos.

A ideia de eliminar semáforos parece desconhecer que existem pedestres e que, se há um grande fluxo de veículos, é também imenso o volume de pessoas que transitam diariamente por ali. O suposto túnel não eliminaria a necessidade de haver solução para a travessia de pedestres, seja na Tiradentes ou na Paulo Faccini.

E o córrego dos Cubas, que passa por ali?

Volume de água do córrego dos Cubas, no trecho próximo ao Parque Renato Maia, antes de chegar ao Bosque Maia

Em conversa informal com o secretário Americano, levantei essa questão e ele ponderou que o pedido para que a equipe do Metrô inclua essa travessia ao elaborar o projeto para a linha prevista para ter a última estação em frente ao Bosque Maia leva em conta a experiência que a esfera estadual tem em obter soluções que à vista de pessoas leigas pareceriam impossíveis. Citou a estação Santa Cruz do Metrô e a passagem sob o rio Pinheiros como exemplos de criativas soluções da engenharia nacional. Não duvido da capacidade dos técnicos brasileiros: no Vale do Anhangabaú também passa um rio e os túneis ali construídos têm resolvido bem o fluxo de veículos na área central da Capital, sem problemas graves de escoamento de águas, com o funcionamento de bombas.

Pessoas com quem conversei entendem que seria mais viável construir um viaduto na avenida Tiradentes, passando por cima da avenida Paulo Faccini, do que fazer um túnel, exatamente onde passa um córrego. Porém, essa solução exigiria desapropriações, principalmente para que houvesse alças desse viaduto para ambos os sentidos da avenida Paulo Faccini, como argumenta o secretário de Obras, Francisco Carone. Para isso, não se poderia ter dado licença para o grande empreendimento que a Helbor construiu no lugar dos imóveis que existiam naquela esquina e que aparecem na foto dessa projeção. E nem seria viável o Hospital São Luiz, que a Rede D’Or está construindo entre a Tiradentes e o Bosque Maia.

Concordo que tecnicamente seja possível construir túneis que comportem a passagem dos veículos em ambos os sentidos pela Paulo Faccini e que isso até seja compatível com o córrego dos Cubas, que passa sob o Bosque, alimenta o lago e segue por tubulação que cruza uma faixa da Paulo Faccini próximo à Kalunga e depois pelo canteiro central da avenida, indo desembocar no canal de circunvalação do rio Tietê, do outro lado da via Dutra. Temo, entretanto, que as inundações que em muitas ocasiões vimos ocupar todas as faixas da avenida Paulo Faccini possam se repetir, com consequências muito mais graves se houver túneis paralelos ao córrego canalizado naquele local.

 

Discuto, também, a equação custo-benefício dessa cogitada obra. Discordo de sua real necessidade e entendo que todo o dinheiro que haveria de ser investido nela pode ser carreado para despesas indiscutivelmente necessárias, por exemplo na área da saúde ou mesmo na melhoria do sistema viário em outros locais nos quais faltam alternativas e onde o adensamento populacional é intenso. Coloco em debate também os transtornos que a obra causará enquanto estiver sendo executada. Quais opções terão os motoristas para evitar o local durante a obra?

Contrário aos meus argumentos, pode-se dizer que a obra do Metrô também irá causar transtornos e que, nem por isso, alguém cogita não querer que o Metrô finalmente chegue a Guarulhos. Creio, porém, que não há a mínima comparação entre a importância e necessidade de uma linha do Metrô para levar os guarulhenses para a Capital – e vice-versa – e o cogitado túnel, ao meu ver absolutamente dispensável.

Se você fosse prefeito, o que faria?

Desejo que os internautas que discordam do meu posicionamento comentem livremente, inclusive me criticando. Se você, leitor, fosse prefeito, colocaria essa obra entre suas prioridades? Entende que ela é mesmo necessária? Considera exequível que seja feita, mesmo havendo um córrego que passa pelo local? Se terá de haver semáforos para a travessia de pedestres, adianta eliminar o cruzamento para os veículos? Seria o caso de ter de construir passarelas para os pedestres? Se sim, como fica a questão da acessibilidade para quem não tenha plenas condições de locomoção.

Quanto mais opiniões forem postas, melhores serão as soluções obtidas, pelo bem da cidade e da população.

Valdir Carleto

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