A escritora Djamila Ribeiro tem suas obras literárias espalhadas pelas unidades da rede estadual de ensino. Na Escola Estadual Professor Andronico de Mello, localizada na zona Sul, a obra da autora foi inspiração para a criação de uma biblioteca antirracista que começou a ser organizada pelos estudantes no início deste ano letivo. No sábado, 7/10, a escola fez uma grande festa para o lançamento oficial do espaço, que já conta com 400 obras, a maioria arrecadada pelos alunos.
O letramento racial é trabalhado dentro de sala de aula pela professora de sociologia Rachel D’amico Nardelli. Ela acompanha os estudantes no projeto desde fevereiro e comemora o fato de que o tema tratado entre carteiras, cadeiras e cadernos “saiu de controle”.
“Nós começamos a discutir racismo e xenofobia dentro do itinerário formativo e surgiu a ideia de compor a nossa sala de leitura com mais obras de autores negros, indígenas e quilombolas. Os alunos assumiram esse projeto com uma maturidade, independência, autonomia e protagonismo impressionantes, porque a maioria dos livros que conseguimos veio por meio do contato que eles fizeram com as editoras e outros doadores, entre eles escritores independentes”, comenta a professora.
Para a estudante Clarice Isabelle Santana, de 17 anos, a biblioteca tem um papel na sua própria história que vai transcender sua jornada na escola.
“Eu percebi que a captação desses livros e aquilo que a gente absorve quando os lê construiu, aqui na escola, uma ideia de coletividade. Alunos passaram a refletir sobre racismo e professores tiveram uma nova perspectiva. Desde que começamos a arrecadar os livros, aumentou minha sensação de pertencimento, passei a me sentir construindo algo maior. Estou fazendo a diferença para a escola porque este é meu último ano aqui e essa biblioteca ficará para os alunos que estarão aqui nos próximos anos”, celebra.
Clarice, que se autodeclara uma mulher parda, disse que a percepção e reconhecimento sobre sua cor partiu principalmente dos debates sobre negritude e letramento racial iniciados na construção do acervo da biblioteca antirracista.
A professora Rachel aponta que os estudantes promoveram até a mudança de interesse dos professores da escola, que atuam para além das disciplinas da área de ciências humanas.
“A gente sabe das desigualdades da escola pública quando nos comparamos às escolas particulares. Quando eu vejo o resultado alcançado pela animação e encantamento dos estudantes, sei que eles poderão competir de igual para igual com alunos que têm mais privilégios. Eu sinto um orgulho e uma tranquilidade de que as portas vão se abrir para eles”, emociona-se a professora.
A festa do sábado também teve a produção dos estudantes, que organizaram a programação cultural, fizeram contato com convidados e até planejaram uma feijoada e um torneio de futebol.
Entre tantos autores pretos, indígenas e quilombolas, a professora exalta que os alunos poderão ter contato com a obra do mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, o primeiro escritor de origem indígena a ser admitido na instituição.
Serviço
- Biblioteca Antirracista da Escola Estadual Professor Andronico de Mello
- Rua Theo Dutra, 33, Jardim Colombo, São Paulo – SP