Nos últimos anos, os jogos de azar e apostas online (bets) se tornaram uma parte crescente da vida de muitas pessoas. O fácil acesso às plataformas digitais, os anúncios sedutores e a promessa de grandes ganhos rápidos têm atraído milhões para o mundo dos jogos.
Embora muitos encarem essas atividades como entretenimento, para outros, o envolvimento com apostas e jogos de azar pode se transformar em um vício perigoso, com sérias consequências para a saúde mental. Segundo o psicólogo Richard Avila, o vício em jogos de azar e bets não é apenas um problema financeiro, mas também uma ameaça à saúde mental.
“Esse vício pode levar ao isolamento, à depressão e, em casos extremos, a algum atentado contra a própria vida. É crucial que o tema seja tratado com seriedade, e que pessoas em risco tenham acesso ao apoio necessário”, alerta.
Mas o que é exatamente o vício em jogos e bets?
O vício em jogos de azar, também conhecido como “transtorno do jogo”, é uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Psiquiatria (APA).
“Pessoas que sofrem com esse vício têm uma compulsão para continuar jogando, mesmo quando isso causa danos a suas finanças, relacionamentos e saúde mental”, explica Avila.
No mundo dos bets (apostas esportivas e de cassinos online), essa compulsão pode ser ainda mais perigosa devido à facilidade de acesso. Com apenas um clique, o apostador pode fazer inúmeras apostas ao longo do dia, o que intensifica o ciclo viciante.
O vício em apostas segue um padrão muito semelhante ao de outros vícios, como drogas e álcool, destaca o especialista. Ele está ligado especialmente a um desequilíbrio nos sistemas de recompensa do cérebro, particularmente no neurotransmissor dopamina, responsável pela sensação de prazer e euforia. Quando uma pessoa ganha uma aposta, seu cérebro libera dopamina, reforçando a ideia de que jogar e apostar são atividades recompensadoras.
“Com o tempo, o cérebro começa a exigir doses cada vez maiores dessa “recompensa” para sentir o mesmo nível de prazer, e o jogador precisa apostar mais frequentemente ou em quantias maiores. Além disso, a ilusão de controle, ou a crença de que pode-se influenciar o resultado de uma aposta, mantém a pessoa presa no ciclo, mesmo quando perde”, acrescenta.
Quais são os sintomas e comportamentos do vício em jogos?
O vício em apostas nem sempre é fácil de identificar. Muitas vezes, quem sofre com esse problema esconde suas atividades, envergonhado do que está fazendo ou acreditando que pode parar quando quiser. Contudo, alguns sinais de alerta podem ajudar a identificar o problema.
Confira os pontos elencados pelo psicólogo Richard Avila, que também é mestre em Ciências da Saúde e é o fundador do Espaço Terapêutico Nosco:
- Aumento de apostas: A pessoa começa a apostar com mais frequência ou em quantias maiores para sentir a mesma emoção.
- Preocupação constante com apostas: Pensar em apostas o tempo todo, mesmo quando não está jogando.
- Tentativas frustradas de parar: Embora a pessoa tente reduzir ou parar de apostar, ela não consegue.
- Perdas financeiras: Dívidas, dificuldades para pagar contas e mentiras para encobrir os gastos com jogos.
- Comprometimento da vida pessoal e profissional: Problemas no trabalho, no relacionamento e com a família devido ao tempo gasto com jogos.
É importante ainda estar atento aos sinais de alerta de que alguém pode estar precisando muito de ajuda, especialmente se essa pessoa tem um histórico de vício em apostas. Alguns sinais incluem:
- Falar sobre querer morrer ou se machucar.
- Sentir-se sem esperança ou dizer que “não há solução”.
- Desconectar-se de amigos e familiares.
- Dizer adeus de forma incomum.
- Mudanças drásticas de humor – momentos de euforia seguidos de profunda tristeza.
- Dar bens pessoais como se não fossem mais necessários.
E como ajudar alguém em risco?
Se você suspeita que alguém está lutando contra o vício em apostas e que isso está afetando sua saúde mental, há maneiras de ajudar:
- Fale abertamente: Muitas pessoas nesse estado sentem vergonha ou medo de falar sobre seus pensamentos. Aborde o assunto com empatia, ouvindo sem julgar.
- Incentive a busca por ajuda profissional: Psicólogos, psiquiatras e grupos de apoio para vícios podem oferecer o suporte necessário.
- Ofereça apoio emocional: Esteja disponível para ouvir e apoiar sem julgamento.
- Evite minimizar os sentimentos da pessoa: Frases como “isso vai passar” ou “você precisa ser forte” podem agravar o sentimento de isolamento.