Reportagem do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, assinada por Bruno Alfano e Caio Sartori, chama a atenção para o boom de pesquisas eleitorais que está sendo verificado neste ano. Enquanto em 2020, foram registradas cerca de 5 mil pesquisas em todo o país, neste ano, até agora já somam 10,9 mil as pesquisas registradas no TSE. E ainda haverá segundo turno em grande número de cidades.
Não haveria problema se todas as pesquisas fossem elaboradas com seriedade e seguindo critérios científicos de segmentação do público a ser pesquisado. A reportagem cita casos específicos de pesquisas que tiveram seus resultados proibidos de serem divulgados, por terem sido detectadas falhas graves. Em uma delas, em Paracambi (RJ), apurou-se que em uma pesquisa cujo resultado era absolutamente diferente de outra havia sido excluída uma faixa etária. Houve queixa, foi verificada a falta dessa faixa etária e a Justiça Eleitoral proibiu a divulgação.
Algo que também vem acontecendo é a proliferação de novos institutos de pesquisa, alguns com nomes semelhantes ao de outros mais antigos e reconhecidos. Tem sido verificado que há pesquisas que não cumprem os critérios que divulgam.
Segundo o Ministério Público de Niterói (RJ), a empresa Costa e Mariath, que adota o nome de fantasia Intelligence, tem histórico de problemas judiciais e ligações com supostas fraudes em licitações. No dia 15/9, a Justiça Eleitoral de Niterói vetou a divulgação de uma pesquisa desse instituto, contratada por um jornal local, tendo em vista suspeita de manipulação de dados. O MP apontou inconsistências graves nos resultados do levantamento, com distorções nos perfis de renda e escolaridade dos eleitores, o que poderia influenciar o resultado em benefício de interesses políticos. O mesmo instituto tem feito pesquisas em Guarulhos, mencionando tê-las feito por iniciativa própria, arcando com os custos.
https://diariodorio.com/justica-eleitoral-suspende-pesquisa-suspeita-de-fraude-em-niteroi-contratada-por-jornal-local/
O argumento de juízes que têm proibido determinadas pesquisas é que a simples exclusão de faixas etárias ou de perfis sócio-econômicos entre os entrevistados pode gerar resultados distorcidos, beneficiando candidatos em prejuízo de outros. Sabe-se que muitos eleitores, indevidamente, votam influenciados por resultados das pesquisas, por desejar votar em quem tem mais chances de ganhar.
A melhor forma de o eleitor “se vacinar” contra pesquisas supostamente fraudulentas é votar de acordo com a própria consciência e tomando por base o preparo de cada candidato, a análise de como se portou em cargos que já exerceu e a clareza na apresentação de propostas de atuação, avaliando se as propostas guardam coerência com o passado do candidato e com a viabilidade de serem concretizadas.
Quando se trata da escolha de candidatos a vereador, é imprescindível que o eleitor não se deixe levar pelo volume de campanha e, menos ainda, pela oferta de favores pessoais. Vale lembrar que a boca de urna é proibida. Há informações genéricas de que há candidatos contratando milhares de pessoas para atuarem no dia da eleição, o que é uma forma disfarçada de compra de votos. Quando eleitores votam por terem sido contratados para trabalhar no dia da eleição e votam em quem os contratou, o resultado é uma Poder Legislativo que não cumpre o papel que lhe cabe, que é o de representar os interesses da população. Eleitor que se vende é tão corrupto quanto quem o compra. Não podemos reclamar dos políticos, se agimos também praticando corrupção. É preferível “perder o voto” e ficar em paz com a própria consciência.
Valdir Carleto