Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Valdir Carleto, editor do portal Click Guarulhos, o ex-prefeito Elói Pietá comenta o resultado da eleição que disputou para a Prefeitura em 2024 e fala superficialmente sobre como agirá de agora em diante.
Qual balanço faz da eleição de 2024, se possível comparando com outras eleições que disputou?
No resultado, pesou mais o ideológico do que o prático. A questão da disputa entre Direita e Esquerda, Centro-Esquerda, etc., esteve mais no critério de boa parte da população, do que pode ser feito efetivamente pela cidade. É diferente de algumas disputas nas quais o prefeito era candidato à reeleição. Houve índice de 80% de reeleição de candidatos que já são prefeitos na atualidade. Ali, houve um senso prático maior da população. Agora, como no caso de Guarulhos, em que não estava em julgamento a reeleição, pesou mais o ideológico do que o prático.
Não fosse isso, crê que o resultado fosse outro?
No meu caso, sim, porque já fui prefeito, com uma avaliação positiva de mais de 80% dos eleitores, com realizações em todas as regiões da cidade, sem exceção, desde Vila Galvão até Vila Any, do Bambi até o Cecap e assim por diante. Além disso, tive um mandato sem corrupção, sem nenhum escândalo. Se pegar a capacidade de realizar e a maneira honesta de administrar os recursos tão elevados quanto os da Prefeitura de Guarulhos, isto seria uma recomendação, o que meu opositor não tem. Não há nenhuma obra feita por ele. Há vereadores que chegaram a assumir uma pequena parcela do Poder Executivo, tem vereador que mantém quase uma pequena Unidade Básica de Saúde, vereador que fornece remédio, médico; vereador que faz, por meio de seu grupo, atitudes de conservação da cidade. São ações que nem deveriam fazer, por não serem tarefas do Legislativo, mas o eleito para ser prefeito nem isso faz. Inclusive, perguntei a um dos ex-secretários da Saúde do atual governo se meu opositor, que se especializou em fazer lives em portas de UBSs, se depois o vereador ia atrás da solução dos problemas que ele denunciava e o ex-secretário respondeu que não. Há vereadores que vão atrás de resolver. Além disso, o que foi eleito prefeito só é conhecido por meio das redes sociais, como um personagem. Se o resultado foi esse, se a maioria dos que foram votar, preferiram esse personagem em vez de escolher alguém como eu, com experiência e demonstração de agir sem corrupção, vê-se que a decisão foi mais ideológica do que prática.
O número 22 ajudou bastante a ele, não?
Pesou mais não o valor próprio do candidato, mas o símbolo. Há outros elementos: foi uma das campanhas mais caras da história de Guarulhos. E há um fator preocupante: no curto mandato de vereador, que nem se encerrou ainda, já acusado de corrupção, o que é raro em termos de vereadores. E acusado pelo seu chefe de gabinete, ex-amigo dele.
Nos debates, ele lhe fez uma acusação, de que Elói Pietá teria sido condenado em alguma ação. Ao que ele se refere?
Não sei. Nunca tomei conhecimento da tal condenação. Não existe. Esse é outro problema: o estilo desse que foi eleito prefeito é não ter nenhum compromisso com a verdade. Inventa qualquer coisa, inventa que um secretário meu tinha sido preso, e nunca aconteceu em minha gestão de secretário ser preso.
Nas outras gestões do PT, isso houve?
Eu respondo pelas minhas gestões. Não posso responder por outras gestões, pelo fato de estar no mesmo partido. Ou será que o prefeito eleito responde pela prisão do Valdemar Costa Neto? Não responde.
Na condição de munícipe, o que Elói Pietá espera da nova administração?
Acho que será desastrosa. Sempre tive esta avaliação: como a pessoa é no seu histórico e na sua campanha, dá para imaginar como será na administração. A começar, pelo caráter de quem foi eleito e de alguns que o acompanham; em segundo lugar, porque os problemas da cidade são extremamente complexos e os recursos, escassos. Dizem que Guarulhos é uma cidade rica, mas a Prefeitura não é rica, em face das tarefas que a Prefeitura tem. A capacidade de investimento é muito limitada. Os problemas que temos: o sistema público de saúde é muito caro. Hoje a Saúde está gastando 26% do orçamento e a Educação outros 25%. O sistema de saúde precisa ser expandido; o Hospital da Mulher já tem recurso definido, mas o Stella Maris e a JJM têm de ter mais aportes da Prefeitura; o HMU e o Hospital Pimentas precisam que seja mudada a gestão deles e também de aporte maior. Se for completar os dois andares do Pimentas, se for construir o Hospital no São João, precisa de investimentos. A Saúde precisará de um naco maior do Orçamento; se não, não conserta o que está ruim. A cidade tem problemas graves de infraestrutura urbana, os engarrafamentos crônicos; há o problema do transporte coletivo, que tem boa parte do custeio subsidiada. Como ele prometeu tarifa zero nos domingos, terá de pagar mais para as empresas de ônibus, pois elas não irão transportar de graça. Isso eu não prometi. O que tem de fazer no transporte coletivo é criar mais linhas, reduzir o tempo entre um ônibus e outro. Os problemas são complexos e a equipe dele é totalmente inexperiente. A Secretaria de Finanças está numa enorme crise. A disputa entre inspetores fiscais e agentes fiscais é gravíssima, gerando um atraso e desorganização. Por vários fatores, a gestão tende a ser desastrosa, tanto pela inexperiência, quanto pela turma que vem com ele, de Itaquá, de Mogi, Valdemar, etc.
Mas ainda assim, ele teve a maioria dos votos no segundo turno…
Os fatores que apontei levaram 41% aproximadamente dos que votaram a escolher a experiência e a ética. Outros se deixaram levar pela questão ideológica. E é preciso considerar o elevado número de ausências na votação, além dos votos nulos e em branco.
Sua equipe irá tomar alguma atitude perante o Judiciário a respeito do tal contrato que seu opositor teria assinado, denunciado pelo ex-assessor? Irá questionar o aspecto legal da eleição?
Nossa posição é que a investigação sobre tudo que foi levantado quanto a irregularidades que teriam sido cometidas no mandato de vereador tem de prosseguir, porque há provas documentais e testemunhais.
Estando já no Ministério Público, crê que a investigação irá caminhar?
Sim, porque o MP terá de chegar a uma conclusão; não sei quando, mas terá de concluir. Nós não vamos tomar iniciativa, porque a investigação já está em andamento. Vamos aguardar o resultado dos inquéritos policiais.
Durante a campanha, viu-se muito nas redes sociais muita gente dizendo não queria votar no Elói, porque estava trazendo Almeida de volta…
Foi outra invenção, porque não havia nenhuma perspectiva de ele ocupar cargo na gestão. Aliás, não assumi compromisso com absolutamente ninguém, de ser secretário ou algo assim. E nunca cogitei que Almeida fosse ser secretário. A falta de compromisso com a verdade é assim: a pessoa inventa qualquer coisa e joga nas redes e o povo acredita.
Não poderia ter evitado isso? Não podia ter escolhido outro partido, evitando esse desgaste?
Quando as pessoas inventam, inventam de qualquer forma. Como ex-prefeito da cidade, ele tem direito de escolher quem ele acha melhor para administrar Guarulhos. E ele como prefeito fez muito mais do que o Guti nos seus 8 anos de governo. Saiu mal avaliado, mas em termos de realizações, fez muito mais do que quem o sucedeu.
Nem com a Fran Corrêa havia compromisso de ocupar posições na gestão?
Nem com ela. A única coisa que ela sabia que iria ser é que seria vice-prefeita. Nunca falamos sobre o papel que ela exerceria no governo.
Outra questão muito explorada foi a de que a vice ter sido a Fran…
Isso foi o trabalho auxiliar que o candidato Alencar, do PT, fez. Foi ele quem criou todas essas mentiras. Mentira que a Fran devia 60 milhões, mentira que o Almeida iria fazer parte do governo… O Lucas apenas aproveitou o que o Alencar fez. O Alencar teve um papel importante no impulsionamento da campanha do Lucas Sanches.
Não considera que tenha sido erro ter a Fran Corrêa como vice, se contra Pietá não havia praticamente o que falar? Em 2020, tendo Adê Rocha como vice, ela pode não ter contribuído para aumentar a votação, mas também não o fez perder votos… Já a figura da Fran foi usada para bombardear sua candidatura.
O único ataque que teve a mim foi feito pelo Alencar por eu ter 80 anos. Usaram a Fran para me prejudicar. Ela é uma pessoa muito dinâmica, tem muitas revelações políticas, uma pessoa que considero muito competente.
A pergunta que não quer calar: qual é o futuro político de Elói Pietá?
Não tenho ainda nenhuma decisão sobre isso. Porque meu interesse era voltar a dirigir a cidade. Talvez eu sofra pressões para concorrer a algo.
Há chance de voltar para o PT?
De jeito nenhum. Sou presidente do Solidariedade de Guarulhos. Vim agora de uma reunião. Vamos organizar o partido nas várias regiões da cidade, a partir dos que foram candidatos à Câmara Municipal. Pretendo, sim, manter a aliança que conseguimos formar na cidade: do Solidariedade com integrantes locais do MDB, integrantes locais do União Brasil, integrantes locais da Rede Sustentabilidade e espero manter aliança com integrantes locais do PDT que estiveram conosco no segundo turno, firmes e atuantes. Também com setores do PT que estiveram conosco desde o início, assim como Carlos Derman, que foi vice-prefeito, mas há muitos outros. Com alguns setores do Psol que estavam conosco no segundo turno e com alguns setores do PTB, Agir, PcdoB e PP que também estava conosco no segundo turno. A ideia é manter essa conformação política para se contrapor aos desmandos que a nova gestão irá fazer, porque não tenho esperança na capacidade, nem na honestidade do novo governo. Temos de ter uma força política que não se submeta ao novo governo e que, ao mesmo tempo, defenda os objetivos que nós tínhamos. É para construir hospital no São João? Vamos batalhar para que seja de fato construído. É para equipar o que falta do hospital Pimentas? Vamos cobrar para que seja mesmo equipado e posto em pleno funcionamento. E iremos, ao mesmo tempo, fiscalizar o governo.
Até que ponto as chapas de candidatos à Câmara influíram no resultado?
Pesou muito nessa eleição de vereadores uma coisa trágica que está acontecendo na política brasileira que é a compra de votos. Há relatos de haver até banquinha para pagar o voto. Quem conseguisse tirar foto do voto ganhava mais. Candidatos que têm base social nos bairros tiveram mais dificuldade por causa da compra de votos. Não posso nominar quem se valeu disso, mas garanto que nos partidos de nossa coligação não cometemos esse tipo de crime.
Até que ponto a falta de meios de comunicação fortes atrapalhou seus planos?
Guarulhos, com todo esse tamanho, precisava ter campanha gratuita pela TV. As redes sociais, Brasil afora, levaram ao poder jovens sem experiência e isso se repetiu em Guarulhos.
Nota da Redação: o espaço fica disponível a quem se sentir prejudicado pelas declarações do entrevistado.