Dezembro é o mês de conscientização sobre o HIV e a Aids, destacando os avanços na prevenção e no tratamento, assim como os desafios persistentes, incluindo o estigma e a falta de acesso equitativo às novas tecnologias. Mais de 40 anos após o surgimento dos primeiros casos, o progresso científico tem salvado vidas e melhorado a qualidade de vida de milhões de pessoas, mas a eliminação da Aids como problema de saúde pública ainda exige esforços conjuntos.
Avanço científico: a promessa do Lenacapavir
Entre os avanços recentes, o medicamento injetável Lenacapavir destaca-se como uma grande promessa. Os resultados de ensaios clínicos foram impressionantes: em um estudo de Fase 3, 99,9% dos participantes que receberam duas injeções anuais não contraíram o HIV. Esse índice supera a eficácia de profilaxias tradicionais, como a combinação de emtricitabina/tenofovir disoproxil fumarato e emtricitabina/tenofovir alafenamida.
O Lenacapavir não apenas se destaca pela alta eficácia, mas também pela conveniência de aplicação, podendo ser administrado apenas uma vez por ano — uma abordagem que está sendo avaliada em estudos adicionais. Segundo o Paulo Abrão, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), “o Lenacapavir tem o potencial de transformar a prevenção ao HIV, facilitando a adesão ao tratamento e ampliando o alcance das campanhas de prevenção”.
Ampliando o acesso e inclusão nos testes clínicos
Os testes clínicos do Lenacapavir têm buscado incluir populações diversas, como mulheres cisgênero, homens cisgêneros que fazem sexo com homens, homens transgêneros, mulheres transgêneros e pessoas não-binárias. Os resultados finais dessa fase de testes estão previstos para o início de 2025 e, caso continuem positivos, a aprovação global, incluindo no Brasil, poderá se concretizar em breve.
Desafios que vão além do medicamento
Apesar dos avanços científicos, ainda há obstáculos significativos no combate ao HIV. O estigma e a desinformação continuam sendo barreiras importantes. Mitos sobre a transmissão do vírus, preconceitos contra pessoas vivendo com HIV e o medo de julgamentos afastam muitas pessoas de buscar diagnóstico, prevenção ou tratamento.
“Informar é tão importante quanto medicar. Precisamos continuar informando a sociedade sobre o que é o HIV, desmistificando as formas de transmissão e combatendo o preconceito, estigma e discriminação. Só assim poderemos criar um ambiente em que o tratamento e a prevenção sejam acessíveis e eficazes para todos”, reforça o Dr. Paulo.
Perspectivas para o futuro
O Dezembro Vermelho é também um momento de reflexão sobre as metas globais da ONU para a eliminação da Aids até 2030, que incluem a drástica redução de novas infecções, a ampliação do acesso a medicamentos e a garantia de suporte necessário para que todas as pessoas vivam com dignidade.
O Lenacapavir representa uma peça importante desse quebra-cabeça, mas sua eficácia dependerá de ações complementares, como conscientização, políticas públicas inclusivas e esforços para erradicar o estigma associado ao HIV. Além disso, será fundamental que o custo do medicamento seja acessível, permitindo sua futura incorporação ao SUS.
“Combinando avanços científicos e sensibilização social, o caminho para um mundo livre da Aids parece mais próximo, mas ainda exige compromisso e ação coletiva”, finaliza Dr. Paulo.
Sobre a SPI
A Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) foi criada em 1994 e reúne representantes das Faculdades de Medicina do Estado, Hospitais Universitários e grandes hospitais com Serviços de Infectologia. Seu propósito é promover a realização de eventos científicos voltados principalmente para infectologistas, o que tem sido alcançado por meio de diversos congressos e eventos. Atualmente, a SPI é a maior afiliada da Sociedade Brasileira de Infectologia, contando com cerca de 900 associados.