Para boa parte das pessoas, as festas de fim de ano – como Natal e Réveillon – marcadas por grandes celebrações – são momentos de alegria, empolgação e confraternização. Mas parte da comunidade de seres vivos pode viver situações de extremo sofrimento nessas ocasiões, levando a ferimentos severos, sequelas e até mortes, em decorrência dos ruídos causados por rojões e fogos de artifício com estampidos. Em Guarulhos, a soltura de fogos de artifício com estampido são proibidos por lei municipal.
As luzes que anunciam o novo ano, uma tradição secular mundo afora, não costumam ser positivas para animais domésticos e silvestres, e nem para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) ou com muita sensibilidade sonora. O assunto é sério, preocupa especialistas, tutores, vítimas e mobiliza autoridades, inclusive o Congresso Nacional, que analisa um projeto de lei para proibir artefatos pirotécnicos que emitem sons muito altos.
Os animais possuem um alcance auditivo muito superior ao dos seres humanos. No caso dos cães, por exemplo, eles conseguem ouvir sons até quatro vezes mais distantes que a audição e em frequências muito mais altas. Além disso, segundo especialistas, eles não compreendem a origem do barulho, o que agrava a sensação de perigo. É como se estivessem diante de uma ameaça iminente, sem possibilidade de fuga ou proteção.
“Os fogos com estampidos causam grande sofrimento aos animais devido à sua audição extremamente sensível. Eles conseguem captar frequências sonoras que nós não percebemos, e o barulho repentino e alto dos fogos é interpretado como uma ameaça. Isso pode gerar reações como medo extremo, pânico e até dor física. Muitos entram em desespero, tentando fugir, o que pode causar acidentes graves, como quedas ou enforcamento em coleiras. Em casos extremos, animais com problemas cardíacos ou respiratórios podem até sofrer colapsos fatais”, descreve o professor Neander Oíbio, mestre e profissional em medicina veterinária.
Registro do número de acidentes com fogos de artifícios
Com a chegada das festas de fim de ano, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) alerta para o cuidado da população quanto aos riscos do manuseio e queima de fogos de artifício. No Estado, de janeiro a outubro deste ano foram registrados 30 atendimentos hospitalares por acidentes com fogos de artifícios, 35% a menos do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Apesar da diminuição dos casos, as campanhas de conscientização reforçam a importância de ações preventivas, visto que os acidentes podem levar à morte, dependendo do grau da queimadura (1º, 2º e 3º grau).
Os incidentes causados pelos fogos de artifício provocam desde lesões auditivas, visuais, até queimaduras, que atingem, muitas vezes, grandes extensões das superfícies corporais, causando danos e levando a necessidade de tratamento médico com hospitalização, além de desfiguração, incapacidade e cicatrizes. O perigo de queimaduras de segundo grau, que envolvem cabeça, tronco e membros superiores, requer atenção e cuidado.
No estado, com base na Lei 17.389/21, é proibida a utilização de fogos perto de crianças, idosos e animais de estimação, já que possuem maior sensibilidade ao barulho gerado durante a queima. A proposta autoriza, no entanto, a comercialização e manuseio dos fogos de vista, que produzem efeito visual sem ruídos.
Em casos de acidente é importante que a área lesada seja lavada imediatamente em água corrente, em temperatura ambiente, entre 15 a 20 minutos e, logo após, o paciente seja levado até uma unidade de pronto atendimento. Não é recomendado a aplicação de receitas caseiras para o tratamento da queimadura.
Confira mais dicas para evitar os acidentes com fogos de artifício:
- Adquirir os fogos apenas em locais autorizados;
- Não armazenar grande quantidade de fogos em um único local;
- Nunca soltar rojão segurando diretamente na mão, o ideal é entrepor com vários rojões já usados ou mesmo varetas, deixando uma distância de pelo menos 60 cm da mão e afastado do rosto;
- Não apontar para onde há pessoas circulando;
- Evitar proximidade com fios elétricos;
- Se beber, não solte fogos ou brinque próximo a fogueiras.
Orientações
Enquanto a garantia de celebrações livres de estampidos dos fogos ainda é uma realidade distante, especialistas dão orientações sobre como prevenir ou minimizar o impacto desses ruídos. No caso dos petos, é importante preparar um ambiente seguro dentro de casa para o animal.
“Crie um espaço onde ele se sinta protegido, com acesso a cobertores ou a um local fechado, como um cômodo pequeno. Sons mais suaves, como uma música relaxante ou o som da TV, podem ajudar a mascarar o barulho dos fogos. Em casos mais graves, o tutor deve buscar orientação veterinária”, recomenda o veterinário Neander Oíbio.
Algumas terapias comportamentais e medicamentos que ajudam a reduzir a ansiedade dos bichinhos nesses momentos. E outra medida é contenção é o uso de faixas de compressão ou “roupas calmantes”, que dão uma sensação de segurança ao animal.
No caso de pessoas com muita sensibilidade auditiva, a dica da psiquiatra Ana Aguiar é de preparação e previsibilidade.
“Se você está em uma festa de ano novo e sabe que vai ter fogos de artifício, prepare-se o máximo possível, sobre quanto tempo vai durar, a distância que você estará desse ruído, se ouvirá muito ou pouco e o quanto você suporta. É fundamental conhecer o próprio corpo e os limites”, observa.
De seis anos para cá, Mila Guimarães, que é autista, diz que sempre usa fones de ouvido com cancelamento de ruído. Assim, ela aprecia as luzes dos fogos sem se incomodar com os estrondos. Essa também é uma recomendação de Ana Aguiar. Como alternativa aos fones de ouvido, há tampões intra-auriculares que podem ser úteis para reduzir o impacto dos estalidos sonoros dos fogos.
*Com Informações da Agência Brasil e Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP)