“Nós não somos de São Paulo. Nós não somos de nenhum lugar. Nós somos de Guarulhos”, foi uma das frases icônicas ditas por Dinho, no show da banda Mamonas Assassinas, quando fizeram pela primeira e única vez uma apresentação no Ginásio Poliesportivo Paschoal Thomeo, ou apenas Thomeozão, como é conhecido. O dia em questão é 9 de janeiro de 1996, dois meses antes do trágico acidente que ceifou a vida de todo o grupo. Na época, o equipamento público era símbolo de uma cidade que ostentava com orgulho o título de capital do esporte amador.

Nesse primeiro parágrafo, os guarulhenses podem sentir falta de três importantes marcos para a nossa cidade: dos Mamonas, da vaidade do título e dos tempos em que o Thomeozão era um local para se orgulhar. De tudo isso, resta apenas o saudosismo.

Fica a pergunta: O que Dinho falaria ao saber que não poderia cantar no espaço que um dia esteve no topo de sua lista de desejos? Não porque teve seu convite para abrir o show do Guilherme Arantes, em 1992, negado, mas porque simplesmente o local sucumbiu aos maus cuidados de administrações que não se importaram muito com a devida manutenção do ginásio. Eventos não podem ser realizados ali por falta do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).

Márcio Monteiro, 48, repórter fotográfico da Folha Metropolitana por 21 anos (1987-2008) cobriu importantes eventos para a cidade e até mesmo para o Brasil, como a jogo da seleção de Basquete Feminino, com a presença de figurões como Hortência e Magic Paula. Shows de celebridades como da Xuxa, Roberto Carlos e do próprio Mamonas são alguns dos momentos marcantes que os guarulhenses contemplaram. Todos esses episódios no Thomeozão – e sempre lotado. “Na época era um orgulho falar do Thomeozão. Os grandes veículos de comunicação quando vinham para cá, em sua grande maioria das vezes, era para falar bem do ginásio e não denegrir a imagem da cidade. O Thomeozão foi palco de grandes nomes e incontáveis eventos. Um marco para a nossa cidade”, pontua Monteiro enquanto relata, em um misto de tristeza e alegria, suas vivências no maior ginásio de esportes da cidade. “Quando ia para o Thomeozão, eu sabia que teria boas fotos”.

 

O funcionário público aposentado Alberto Serra Pinto, 63, exerceu diversas funções na Secretaria de Esportes da cidade, dentre elas, o de coordenador de Eventos. “Vi o Thomeozão sediar eventos de todo porte e importância. Era uma estrutura de primeiro mundo”.

Alberto, que exerceu suas funções até 2013, conta que o problema não foi de uma única administração, mas de todas que não fizeram nada para manter a estrutura em dia. “Nunca foi feito nada para melhorar. Algumas reformas no piso, uma pintura aqui e ali, mas de fato foi se deteriorando sem nada ser feito”.

O Click Guarulhos, portal de notícias editado pela mesma equipe da RG, publicou com exclusividade a triste notícia de uma tentativa de estupro nos fundos do ginásio, na noite de 15 de maio deste ano. A mulher de 32 anos conseguiu desvencilhar-se do criminoso e correu para dentro do local, gritando por ajuda. Felizmente, os atletas que ali treinavam conseguiram dar o suporte para a vítima. O criminoso, após ser espancado por populares, foi detido em flagrante por guardas civis, encaminhado ao hospital e levado ao 1º DP. Foi instaurado inquérito policial, relatado no dia 21 do mesmo mês. Ele? Um jovem de 22 anos, conduzido à audiência de custódia, teve mantida sua prisão.

A.A. Guaru vs Report Mogi – 02/02/96 – Foto: Márcio Monteiro

“Mãe, não chega nem perto do Thomeozão para buscar a gente”, foi o alerta que um dos atletas que treinava no dia do ocorrido enviou por uma mensagem à mãe. Segundo o adolescente, como eles saem em um grupo grande do ginásio, a probabilidade de acontecer algum incidente é menor.

Entre maio e junho, a Reportagem da RG circulou em dias aleatórios nas imediações do Thomeozão e o que constatou foi iluminação pública precária e uma sensação predominante de insegurança, com presença de usuários de drogas, colchões e até barracas, sem contar a grama alta. Enfim, sinais nítidos de que o prédio e seu entorno estão jogados às traças, representando o descaso das autoridades com o patrimônio guarulhense.

 

Parece piada pronta, mas ver o Thomeozão de volta à glória parece soar como uma Utopia, nome anterior da saudosa banda Mamonas Assassinas.

O que o outro lado diz…

A administração municipal informou que a reforma prometida no Thomeozão será iniciada assim que houver a liberação do valor da emenda destinada ao ginásio, que está em processo de análise documental pela Caixa Econômica Federal, sem previsão de liberação.

A verba de R$ 984.848,48 tem origem em emenda apresentada pelo deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM), empenhada em novembro de 2017.

Dinho, vocalista dos Mamonas Assassinas em seu primeiro e único show no Thomeozão – 06/01/96 – Foto: Márcio Monteiro

Há anos falta o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). A Reportagem apurou que um laudo técnico foi apresentado pela arquiteta da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, no qual consta projeto básico, memoriais, planilhas, entre outros documentos pertinentes. A reforma deve contemplar instalações elétricas, com iluminação e para-raios, revisão das instalações hidráulicas e de incêndio.

Atualmente, o espaço está aberto apenas para treinos de equipes de handebol. A Secretaria de Segurança Pública esclarece que há um estudo para implantação de uma base da Guarda Civil Municipal (GCM) no Thomeozão, que ainda não foi concluído. Sobre a segurança do espaço, como de praxe, a Secretaria informou que mantém patrulhamento constante no local. Frequentadores, porém, dizem que é raro ver a GCM ali.

Velório da banda Mamonas Assassinas – 04/03/96 – Foto: Márcio Monteiro