O álbum “Liquidifiqueador”, da banda guarulhense Cyanogaster, carrega no próprio nome a ideia de diluir e triturar as próprias dores. Catártico, o álbum mergulha na “vibe triste” sem se afundar no acústico, ilustrando outras possibilidades de explorar esse sentimento tão peculiar. A banda, formada em Guarulhos, é composta por Yvan Romeiro (voz, violão, teclado), Guilherme Nascimento (guitarra e voz), Dennis Ragonha (baixo e voz) e Ronaldo Ragonha (bateria).
Na intenção de conectar peças trituradas, o álbum de 12 faixas é composto por cinco músicas que logo após são repetidas em versões mais enérgicas e experimentais. De forma espelhada, “Liquidifiqueador” termina com a mesma música do começo, mas em uma versão totalmente diferente. O Interlúdio e a faixa “Canção Boba” marcam a transição do lado A para o lado B.
Com a cisão no meio, em sua primeira parte, o álbum traz a representação mais tradicional do indie rock com violão, solos de guitarra e bateria. Em “Paisagem” e “Virgem”, o lado melancólico fica exposto e ganha maior alcance em “Édipo”, uma faixa que escancara as dores, explicitamente em tom de confissão.
Na transição, o álbum “recomeça” com a intensidade e agressividade presente na pegada emo e screamo de “Carrasco” (Ao vivo Oversonic), e mostra seu lado bem-humorado em “Amor, ódio e reparação (versão 80’s)”, com nuances mais sintéticas e viajantes na presença do teclado e elementos inspirados na estética Arcade. Em Édipo (Versão Lo-Fi), o álbum explora técnicas de gravação de baixa fidelidade sonora para conferir um certo charme “caseiro” para a produção; e, em “Virgem (à capela)”, a criatividade da Cyanogaster faz com que os músicos deixem seus instrumentos de lado em uma faixa totalmente à capela. Trazendo essa técnica tão antiga para a música contemporânea, a faixa ganha um verniz diferenciado com a ambientação vocal dos músicos e a presença de Adrielle Ferreira na voz feminina do duo.