
Por Tamiris Monteiro
Alexandre Ribeiro, o Zuza, é apaixonado por handebol e figura conhecida na história esportiva de Guarulhos. Além de empresário no ramo de assessoria esportiva, lidera um projeto de handebol com crianças e adolescentes.
RG: Como aconteceu sua iniciação no handebol?
Iniciei no basquete, mas todos meus colegas do bairro jogavam handebol. Sofri muita influência dos amigos e passei a gostar do esporte. Inclusive, quem era o professor deles era o Washington Nunes, que hoje é assistente técnico da seleção brasileira.
Por quantos anos jogou? Por quais equipes passou? E quais vitórias foram importantes na sua carreira?
Joguei por 15 anos e as equipes que atue foram: Guarulhos, Santo André, São Caetano e Mogi das Cruzes. Tive muitas vitórias marcantes e uma das que mais gosto de comentar com os colegas foi a final da Copa Étina, na Itália, um torneio internacional que disputamos defendendo Guarulhos e ganhamos de uma equipe da Áustria. Imagina uma equipe do Brasil – que só era visto como o País do futebol – disputar uma final de um torneio internacional. Foi muito bacana. Outro momento marcante foi quando jogava por Guarulhos e ganhamos por um gol de virada do time Sírio, campeão brasileiro da época. Outra vitória emblemática foi em cima da franca favorita Metodista (São Bernardo), nos jogos abertos no interior, quando jogava por São Caetano. Conseguimos ganhar na final por dois gols de virada. Sermos campeões paulistas por Guarulhos foi mais um título significativo, porque eu era muito garoto, tinha 17 anos, e jogava na equipe principal. Esse foi meu primeiro título com o ginásio lotado.
Qual foi o momento mais marcante e significativo na sua carreira de atleta e explique o porquê.
Meu primeiro torneio internacional. É muito gostoso participar de um desfile onde você carrega uma bandeira representando seu País. Foi um momento único na minha vida.
Sendo o Brasil considerado o País do futebol, o que despertou seu encantamento pelo handebol? Quais são as características mais marcantes do esporte?
Nunca tive tanta intimidade com a bola no pé, sempre gostei mais de esporte coletivo e que utilizasse as mãos. Futebol nunca me apeteceu. Já as características fortes do handebol são: força, tomada de decisão e a velocidade do jogo. Tudo isso me encanta. É muito dinâmico e os jogadores não param. É fascinante.
Conte um pouco sobre o projeto Herkules Handebol AllFit?
Tudo começou pelo incentivo de amigos e pela pressão de alunos que querem jogar o campeonato paulista de clubes. Não tenho recurso financeiro nenhum para montar uma estrutura, mas fui movido pelo emprenho das crianças e de pais insistentes e resolvi montar o grupo. Só que queria fazer algo diferente e como o César Bombom (atual goleiro da seleção brasileira e ex-atleta de Guarulhos) estava na Espanha, eu pensei: “poxa, vou tentar fazer um link com a equipe espanhola em que ele joga e formar um grupo brasileira apadrinhado por ele”. Mas a equipe da Espanha não tinha essa categoria, de faixa etária de 12 anos. Mesmo assim, o César junto com a namorada norueguesa correu atrás de ajuda na Noruega, onde o handebol é muito forte. Tempos depois nos enviaram uniformes e formamos o Herkules Handebol AllFit Esportes. A AllFit é minha empresa, uma assessoria esportiva que atua fortemente no segmento de personal training, eventos e de consultoria para implantação de academias corporativas e de condomínios. E a Herkules Norges é uma equipe média da Noruega. Fiz a junção dos nomes e assim nasceu o projeto.
Quais os principais obstáculos o projeto tem enfrentado?
Hoje meu maior desafio à frente do projeto é a manutenção. Sem recursos próprios fica bem difícil, por exemplo, tentar arrumar outros espaços e tentar montar outros núcleos com crianças carentes. Também é bem difícil tentar trazer recurso para o projeto para melhorarmos a estrutura e pagar os profissionais, porque todos trabalham de forma voluntária. Apesar das dificuldades, hoje, atendo cerca de 50 crianças em um único núcleo. Contudo, pretendo, até o final do ano, atender 150 crianças.
Como é a rotina de treinamentos dos alunos do projeto e como tem sido os resultados?
Como não tenho espaço físico para treinar qualquer dia da semana, consigo por meio de um amigo treinar na FIG todo sábado, das 9h às 10h45. No segundo semestre do ano a ideia é tentar conseguir mais um treino por semana. Mas conseguir espaço físico ainda é algo muito difícil.
Você foi treinador do César Bombom. Como o fato de ele ser goleiro da seleção nacional serve de incentivo para os integrantes do AllFit?
Sim, fui treinador do César Bombom. Ele iniciou comigo aos 12 anos de idade e de lá para cá tem sido muito participativo no projeto. Mesmo distante ele manda mensagem. E esse é um grande incentivo para as crianças, elas saberem que fui técnico dele. Certo dia ele foi visitar o projeto, contou um pouco da sua história e o que fez para chegar até a seleção. Ter parceiros como Bombom é uma forma de motivar as crianças a seguirem em frente. É preciso acreditar. Como ele mesmo disse ao time no dia que nos visitou: “se você tem um sonho, tem que acreditar nele e não desistir”. Isso é muito importante.
De modo geral, o que você pode falar sobre a gestão do handebol e do esporte em Guarulhos?
O esporte de Guarulhos está falido. A Secretaria de Esporte há muitos anos foi sucateada e hoje o negócio é cargo político e não meritocracia. O último secretário, Marcelo Mesquita, foi quem fez algo diferente e interessante, em virtude de ter sido atleta da cidade e ter formação de educador físico. Acredito que ele tenha sido o mais bem preparado para assumir o cargo. Mas temos vivido um descaso e abandono total. Não temos mais praças esportivas, os coordenadores são fracos e não existe nenhum tipo de cobrança. O PT não tem política esportiva. Para quem foi a capital do esporte amador, hoje, ver como o esporte se encontra na cidade é muito triste. Uma vergonha.
A quais fatores você credita a decadência do esporte em Guarulhos, em particular do handebol? Por quê?
Atribuo a decadência à coordenação. Não existe nenhum trabalho efetivo, planejado e organizado para que o handebol cresça na cidade. Embora tenhamos atletas de sobra. O trabalho é muito fraco.
Em sua opinião, quais as mudanças e iniciativas que precisam acontecer para que o esporte em Guarulhos volte a se reerguer?
Colocar um gestor esportivo que viva no meio do esporte. Mudar os coordenadores que realmente não fazem nada pelas respectivas modalidades. Capacitar os profissionais que cuidam das categorias de base. Fazer parcerias com clubes e escolas da cidade em razão da falta de praças esportivas. Mudar o regulamento das olimpíadas colegiais que não é compatível com o regulamento das federações. Capacitar professores das escolas para padronizar o trabalho e chegar ao clube com a mesma formação. E montar núcleos de treinamento.
Como a chegada do Jordi Ribeiro à seleção masculina e de MortenSoubak à feminina representam mudanças significativas no handebol do Brasil?
Os dois técnicos têm grande parcela no crescimento e desenvolvimento da seleção. O Jordi faz acampamentos de handebol pelo Brasil em busca de novos talentos e formando seleções permanentes, dando início na categoria infantil, até 14 anos. A confederação fez convênio com uma equipe européia onde grande parte da equipe atua com jogadoras da seleção. A bagagem internacional dos técnicos nos aproximou do handebol jogado na Europa.
Qual sua análise sobre as seleções (feminina e masculina) para as Olimpíadas de 2016? Acredita que tenham chance de subir ao pódio?
O feminino está mais encorpado, as chances são maiores, são as atuais campeãs mundiais. Mesmo sendo uma equipe envelhecida temos chance de ficar entre as quatro finalistas. O masculino será mais difícil, pois temos uma equipe jovem. Muitos jogadores atuando fora do país, mas não por tanto tempo como no feminino. No entanto, no mundial, demonstraram mais competitividade e quem sabe podemos ter surpresas.
O que explica o baixo interesse das três esferas governamentais e da iniciativa privada em investirem no esporte, quanto à formação de atletas e cidadãos?
O investimento é pouco, mas existe. Porém, é muito mal administrado o recurso financeiro em razão da falta de política esportiva, sem falar dos desvios. Não há planejamento esportivo a curto, médio e longo prazo. As pessoas que comandam o esporte, seja em qualquer esfera governamental, são de cargos políticos e não por meritocracia. Os gestores têm dificuldade na elaboração de projetos, com isso, a dificuldade de atrair recurso privado. Sendo assim, tanto o âmbito esportivo como social ficam comprometidos.