Por Tamiris Monteiro
Nascidos em um período altamente tecnológico, não conheceram o mundo sem internet, vivem conectados, são dinâmicos, inovadores, multifacetados, exigentes, sabem bem o que querem e querem tudo para agora. Trata-se dos jovens da geração intitulada como “Geração Z”, que nasceram a partir de 1995 e estão começando a deixar marcas de suas características na história evolutiva da humanidade.
Com aspectos peculiares, geralmente sempre ligados à relação que desenvolveram com a tecnologia, os jovens de hoje enxergam o mundo de um modo bastante diferente de seus antecessores. “Essa geração nasceu em uma sociedade virtual; eles não conhecem o mundo sem internet, smartphones e televisores modernos e, por isso, destacam-se pelo rápido acesso às informações e pelo domínio que têm desses aparelhos. Contudo, a rapidez e quantidade de informações, por vezes, não permitem que absorvam e compreendam de forma clara os acontecimentos. Além de quererem tudo ‘pra ontem’. Por serem mais críticos também, não lidam muito bem com hierarquia e horários pré-definidos e buscam executar várias tarefas ao mesmo tempo: assistir à TV, navegar na internet e ouvir música é normal. Porém, como a todo o momento surgem novos recursos tecnológicos, isso gera ansiedade neles, porque são moldados dentro de uma rotina inquieta e não sabem ficar ociosos”, explica a psicóloga e pedagoga Mirla Santos.
As relações pessoais – ou a falta delas – são outro ponto que define o contraste da geração Z em comparação às demais. O estudo “Likers: A Nova Geração de Consumidores” ouviu mais de 400 jovens brasileiros das classes A até D, e a pesquisa apontou que o comportamento dessa geração – muitas vezes julgada como rebelde -, é o resultado da seguinte soma: pais fora de casa; mais convivência com padrastos e madrastas, que costumam ter um papel pouco definido na família; sensação de insegurança; e maior acesso ao mundo por meio da internet. Esse conjunto interferiu drasticamente no comportamento e na forma de se relacionarem.
Assim, concluiu-se que as relações ganharam em igualdade e perderam em maturidade. “Acredito que tudo que é muito exagerado é prejudicial; a internet, por exemplo, possibilita o aumento na rede de contatos; contudo, com a acomodação de utilizar WhatsApp, Messenger, Skype e outros meios usados para se comunicarem, perdeu-se o contato face a face, impactando na relação interpessoal, não só com a família, como na vida pessoal”, avalia Mirla.
Por causa dessas transformações, para muitos pais, a sensação que se tem é que os jovens estão mais mandões e incompreensivos, mas essas características também têm ligação com o querer tudo “pra ontem”, citado pela psicóloga Mirla. “Acredito, pela minha experiência em consultório com os jovens, que por terem essa conexão tão forte com a tecnologia, buscam a solução de alguns problemas como um Enter do computador, em que basta apertar e, pronto, está tudo resolvido. Isso acaba trazendo ansiedade e descontentamento. Para ajudar, o afeto é deixado de lado, por conta da vida corrida que muitos pais levam: trabalho, cansaço, estresse, afazeres de casa e outros”, pontua.
As etapas da infância, escola e trabalho também ganharam novas características. Segundo Mirla, durante a infância não há mais a brincadeira de rua. “A integração acontece praticamente toda pelo mundo virtual; não compreendem a vida sem esses meios tecnológicos. Atualmente, os bebês já exploram a tecnologia muito cedo, inclusive, por incentivos dos pais, que disponibilizam desenhos, jogos e outras interações no celular ou tablet”, afirma.
No período escolar, o fácil e rápido acesso à internet faz com que as visitas e pesquisas por livros em biblioteca já não façam parte da rotina dessa geração. No mercado de trabalho, como a geração Z nasceu e vive em um mundo globalizado, apresentam uma visão diferente a respeito de hierarquia, flexibilidade, dinheiro versus trabalho prazeroso e envolvimento com processos de longo prazo.
Sexo e drogas
As descobertas relacionadas à sexualidade e drogas também acontecem cada vez mais cedo. De acordo com a pesquisa mencionada, 61% afirmaram que consomem bebidas alcoólicas e 27% que fumam maconha quando estão em festas. E vale lembrar que mesmo parecendo inofensivo, o uso do álcool na adolescência é altamente prejudicial para o desenvolvimento neurológico.
Outra curiosidade preocupante analisada no estudo é que mais da metade dos jovens entrevistados já fez sexo e, geralmente, sem proteção. Quando usam preservativo, o motivo é medo da gravidez e não de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV, por exemplo.
Aspectos positivos
- Dinâmicos e inovadores;
- Convivem muito bem com a tecnologia e a ciência;
- Fazem diversas tarefas ao mesmo tempo;
- São imediatistas, críticos e mudam de opinião diversas vezes;
- São preocupados com questões ambientais;
- Serão profissionais mais exigentes, versáteis e flexíveis.
Aspectos negativos
- São intolerantes;
- Perdem o foco com facilidade;
- Às vezes isolam-se;
- Cometem muitos erros ortográficos;
- São introvertidos;
- Têm distúrbio do sono.
Leia mais sobre a série Geração Z, da Revista Guarulhos edição 109:
- Prazer, somos a geração Z
- A geração conectada
- Os jovens e as relações pessoais
- Mercado de trabalho de X a Z