Por José Paulo Ferrari
A memória olfativa é extraordinária… Ela está presente em muitas espécies, além do gênero humano, conforme comprovam muitos artigos científicos que, nos dias atuais, avaliam as suas influências na própria criança e no seu desenvolvimento. Parafraseando um pensador: “Sinto cheiro, logo existo”!
Em muitos animais, por exemplo, é ela que garante em muitas situações a própria sobrevivência.
Nesses processos mentais involuntários que trazem à tona em todos nós, por intermédio da memória, antigas lembranças que pareciam esquecidas, os estímulos visuais, assim como os auditivos e, também, as sensações corporais são – no geral – os gatilhos para disparar as mais delicadas e, também, intensas emoções em cada um de nós, não importando a idade que possamos ter.
No meu caso em particular, já nos idos dos meus 70 anos, posso garantir que ao ver imagens como de um forno de lenhas – como esta que ilustra esta mensagem – ainda sou capaz de sentir o cheiro dos pães que a minha mãe, durante minha primeira infância, lá no interior de São Paulo, fazia em um forno de barro.
Lembro-me, num doce recordar, que os pedaços dos pães, fatiados sobre um patamar de madeira em frente ao forno, pulavam de uma mão para a outra para não queimar os dedos enquanto a manteiga – feita em casa – antes de cair no chão, também, escorria entre o indicador e o polegar que eram lambidos rapidamente por minha língua voraz!
O velho forno, construído por mãos delicadas e hábeis do meu querido e, também, velho pai, ficava lá no quintal, um pouco afastado da porta da cozinha, pois produzia muito calor e, além do mais, precisava de muitas lenhas que ficavam, geralmente, depositadas na sua parte inferior. E já que é para recordar, vale também lembrar que aranhas e cobras faziam do deposito seu habitat natural.
E olha que minha “saudade olfativa e gustativa” não é só dos pães, já que era naquele verdadeiro laboratório alquímico que se produziam, também, excelentes leitões e frangos assados, em épocas muito especiais, como nos casamentos, batizados e antigos natais!